sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Medo.



Se não existisse a Clarice Lispector e o Oasis eu teria dó da gente. Seriam quinze minutos, mudos, um de frente pro outro, esperando ansiosamente por esse capuccino que não chega... O mais esperado de todos os tempos. E parece que quanto mais eu vejo o relógio, mais a garçonete torce pela nossa desgraça. Mais aguardado que qualquer resultado de loteria ou teste de gravidez. Pelo menos quando ele chegar, a gente vai poder falar de alguma história de safra de café, de como ele é melhor que o expresso, ou qualquer coisa do tipo. Falar de qualquer besteira que não seja a besteira de sermos apenas eu e você aqui, nesse café, fingindo sermos o casal que não queremos ser.

Uma promessa quebrada é tão boa quanto uma mentira, e tudo isso me cheira a relacionamento. E quanto mais eu respiro esse ar, mas me vem a vontade de perder todo o olfato que me resta. Me vem uma louca vontade de perder tudo aquilo que eu ainda nem possuo, só com medo de provar da felicidade e ter que um dia me desfazer dela. Você diz coisas que não devia dizer, e digo isso não pelo fato disso me fazer sangrar, mas por cada palavra ser doce demais me causando um tipo de diabete, que no caso, só o amor é capaz de transformar esse tumor que a diabete é em uma dúzia de copos de leite. E isso me assusta, profundamente.

O maior risco pra quem não tem nada a perder é ganhar alguma coisa, mesmo que pequena seja. E o maior risco que você corre agora é o de ser feliz, por mais que eu não bote nem um por cento de fé na gente. Das poucas coisas que lembro, relevantes foram momentos de alma, o resto foi mais de corpo mesmo. E eu tenho tanto medo, por que ao mesmo tempo que não somos nada, me imagino como um tudo, só por estar com você. Ta vendo só? Já me deixo levar. Mas apesar de considerar nossos passos como refrões mitológicos, não há Thom Yorke ou Anthony Kieds que consigam embalar nossa própria canção. A gente precisa de muito mais...

A verdade é que enquanto nós somos o problema, nós somos nossa própria solução, e além de nós, quem vai solucionar nosso problema? Quem vai vir nos salvar de nós mesmos? Quando paro pra pensar nessas indagações, me vem a breve lembrança de que se já trato isso como empecilho, é por que algo incomoda, e se algo incomoda, é por que dessa vez o corpo já não sufoca tanto o grito que a alma quer dar. E eu me sufoco de preocupações... Qual vai ser? Eu to disposta a ser feliz? Você pensa algum dia em me fazer feliz? Quanto mais eu espero, mais eu me apavoro e me sinto em pesadelos com o Freddy e o Jason. Algum palpite?

Se pensar em sermos só nós dois me assusta, quem dirá transformar isso em realidade. Quem dirá tirar cada palavrinha desse papel e coloca-las todas em minha boca dizendo estar disposta a ser toda tua, sem nem se quer saber se vale a pena e se a recíproca é verdadeira. É, ai a razão fala mais alto e eu jogo no ar todas as esperanças de ser feliz ou infeliz, quem sabe. Escolho o caminho mais fácil, o menos provável de me fazer sangrar e provavelmente o menos provável de me trazer alguma boa surpresa que não seja o lançamento do novo álbum do The Kooks ou o resultado da prova de penal.

Pode esperar, daqui pra semana que vem o celular toca de novo e serei eu, não arrependida, mas disposta a começarmos aquilo tudo de novo que não tem nem um fim e nem um começo entre nós. Aquele eu e você por acaso por que teve que ser. Aquele eu e você dividindo uma pizza na casa de um amigo em comum. E ei, acredite, quando eu falo é pra valer, por que se já não consigo caminhar de mãos dadas, quem dirá só! E já não importa o que o futuro reserva pra nós, ou melhor, pra mim e pra você, assim, separados por conjunções, vírgulas, ou por puro medo mesmo.