quarta-feira, 11 de abril de 2012

O que ficou pra dizer de nós.

                                  
Todas essas máquinas e tubos atrelados a cada esquina do meu corpo me fazem viver um pouco mais. Em contrapartida, o apático tom verde-sálvia, que banha as paredes do quarto, juntamente à comida horrorosa e cautelosa do local, me convidam festivamente para um coma perdurável. Agora, imagina aí como é viver (irônico dizer “viver” no momento) todo esse drama de cores trágicas, sabores desgostosos e é claro, a adversidade que é a tua ausência. Assim já não me preocupo com o coma, e sim com a morte mesmo. O pouco que minha mente trabalha, é tentando resgatar meu passado-presente-fututo-pra-sempre contigo. Pensando nas minhas últimas palavras, nos meus últimos desejos e toda essa quase besteira que fazem os enfermos terminais. Então eu pediria gentilmente à enfermeira uma dose de álcool, um cigarro, papel e caneta. Quem sabe, assim, você leia minhas palavras, já que se recusa a ouvir as mesmas, assim como todas minhas chamadas pendentes no teu celular.
Não quero soar como mais uma paciente em estado de choque. Mas pelo garrancho da letra mal elaborada, é perceptível o tremor nos meus dedos pálidos e roxos de unhas mal feitas e de cutículas mal tiradas. Mas tanto faz, já passei por coisa bem pior. Eu me refiro ao borrão da carta, não ao meu câncer incurável, certamente. Não quero te contar detalhes do dia em que a gente se conheceu, pois ainda existe um resto de esperança nesse meu ego nocauteado que torce para que você se lembre. Minha razão crê que não, mas pouco importa. O que se leva da vida não é um primeiro aperto de mão ou um sorriso de boas vindas, mas sim o momento em que a gente se sente mais a vontade pra oferecer mais que estranhos apertos de mãos que se desconhecem e principalmente, não somente dar sorrisos, mas também recebê-los de volta. Você lembra? Eu já só me lembro da parte em que você se tornara de casa, e do coração. Meu amigo, meu ombro direito, minha mão esquerda, minhas pernas... Enfim.
Corre agora na cabeça o que você chamava por “meu dia”. Ás uma, chegara efusivo e eufórico com o bolinho velho da padaria comprimido contra o peito, usando o ar para apagar a vela levemente acesa, que se fazia luminosa no breu do meu apartamento, se revezando entre emitir o som das palmas e o carregar desajeitado do troço cereja-carmim. Entre o tédio e a morte daquele dia, já banal pra mim, eu me socorria naquela cena. Não me importava com as futuras rugas que deixariam minha face plissada, ou o fato de morrer ingerindo o bolinho morfético, nem qualquer outra coisa. Tudo que me vinha aos olhos, à mente e ao peito, era unicamente o ato de carinho. “Valeu, vai tomar um banho, tem lasanha no forno e um bom vinho novo, o que eu quero de presente pra hoje é o cessar da minha fome e a tua companhia.” E se tratando dos meus dotes culinários, não era difícil acatar minhas imposições. “Ok, me dá dez minutos, já volto pra ser teu.” E ria manso, com o ar de dever cumprido.
Nas segundas-feiras de tédio, nada mais justo que uma dose de uma série criminal como NCIS. “Pode entrar, tu ta exatamente três minutos atrasado, tempo suficiente pra não entender mais a razão do resto da trama.” “Desculpa, você me falou dessa mania abusiva da tal da tua rinite aparecer vez ou outra, foi aí que eu decidi parar na farmácia da esquina pra comprar um daqueles teus frasquinhos viciantes de conteúdo líquido corrosivo”. E eu disse que o nome não era bem esse. “Obrigada, agora vem e senta aqui que eu te explico o que já aconteceu”. E a gente começava, como se fosse eu a Pauley Perrete e você o Mark Horman, dando nossos palpites amadores, tentando solucionar os casos antes mesmo do fim do episódio. Nós realmente não tínhamos noção alguma de investigação ou balística, e você nunca teve noção do que é ser justo. E eu te aceito, assim, ridículo e boçal. Porque amar é isso aí mesmo, meu bem.

Também teve aquele dia, que nas minhas recordações, ficou marcado como o começo do fim dos nossos dias. Era um show de uma bandinha de nome peculiar, que eu tento desvendar até hoje. Cajun Dance Party, se bem me lembro. Fui eu, você e mais uma meia dúzia de amigos. Você tava isolado, encostado, pressionando a perna dobrada contra um dos apoios da pista principal, bebendo cerveja, com cara de cachorro sem dono. Eu e minha solidariedade fomos direto ao teu encontro. Alguma coisa estranha já invadia o ar naquele momento, mas só com a solidez das tuas palavras eu pude concretizar essa realidade no interior do meu cérebro antes genuíno. Você se apossou das minhas mãos. “Fica aqui comigo”. “Eu já to aqui, não to?”. “Eu quis dizer, fica comigo mesmo”. “Melhor não, meio mundo vai ver e é isso aí, a gente não deve”. Não lembro o epílogo do diálogo túrbido, já só das mãos desatreladas, do eu pra cá e você pra lá. Uns trinta minutos depois você já tava destinado a tecer novos prólogos, mas agora com outra mulher, que não visse nenhum obstáculo óbvio pra chegar a tua boca. Parecia até uma cena de filme programada. Bem na hora que o Daniel Blumberg enfatizava o refrão de “The Hill, The View and The Lights”, tipo num som de tragédia grega, enquanto minha mão direita cedia ao meu copo de bebida uma ida dramática ao chão, eu via vocês ali, sentindo certo alvoroço dentro de mim, desconfiada de que dessa vez, a inquietação não viera proveniente do álcool. Lembro que assim que o beijo acabou ainda ouve um último pedido teu. “Compra lá uma bebida pra mim?” Eu arregalei um dos olhos, franzi a testa, perguntando a mim mesma se isso era comigo. Por fim, eu dei as costas e me mandei.

Você ainda arriscou deixar umas mensagens na minha secretária eletrônica, mas eu não tava afim de papo. Uns três dias depois, no corredor de algum lugar, eu acendi meu cigarro e vi você caminhando atrás de mim. Eu senti, virei e voltei a caminhar pra frente de novo. Você gritava, tentando ganhar minha atenção. “Espera aí, onde é que tu vai?” Eu parei. “O que é que tu quer?” Com uma cara de poucos amigos. “Não entendi nada, tu sumiu do show, eu te liguei, tu sumiu de tudo”. “Fui eu quem não entendi, tu disse que queria ficar comigo”. Você começou a dar um sorriso sem graça, como se a felicidade tivesse deixando os cantos da boca. “Era só brincadeira, eu não tava falando sério”. Eu ri contigo, abaixei a cabeça, traguei o cigarrinho, fiquei séria e te olhei de novo. “É mesmo? Porque não parecia!”. Teu sorriso já sem graça cessou de vez. Eu impeli a fumaça contra tua cara. “Faz o seguinte, da próxima vez tenta fazer não parecer tão real assim, pode ser?” Você não tinha mais nada a dizer. Eu joguei o fim do cigarro nos teus pés e fui embora, mais uma vez. Parece que bem aí as despedidas se tornaram normalidades do nosso dia-a-dia.

Talvez exatamente uma semana depois, numa reuniãozinha na casa de um amigo em comum, você soltou, depois de ingerir alguma bebida alucinógena, que sentia minha falta. Eu só consegui emitir meu próprio silêncio e minhas caras e bocas de quem tava pé da vida! Quando eu fui deixando de ficar sóbria e as pessoas do local se reduziram a metade tava lá eu e você, sentados numa mesa, um de frente pro outro sem trocar palavras e eu te repreendendo apenas com olhares. Parece mesmo que o chegar da noite sempre me deixa mais vulnerável e você, que já me conhece, escolhe as piores horas pra tentar fazer as pazes. “Senta aqui do meu lado”. “Não, senta aqui tu”. “Por favor”. Eu fui lá e sentei. Você me abraçou forte e beijou minha nuca. “Quer saber, eu vou ali naquela salinha olhar pro teto e dar uma checada nas paredes, se tu quiser, vai lá depois, to te esperando”. “Não vou não”. E eu fui, me lembrando dessa mania ridícula de me contrariar e contradizer nas piores das horas.  Era uma bibliotequinha escura que não via limpeza há uns três meses, suponho. Antes que eu termine, eu quero ressaltar que no escuro, onde a gente quase não pode ver nada, é onde geralmente eu consigo ver as coisas mais bonitas acontecerem. “E então, o que foi que tu me chamou aqui?” E você me puxou, enquanto eu podia ouvir de novo o Daniel Blumberg, agora mais invisível e mais doce cantando “The Parachute”, e me beijou, respondendo minha pergunta tola.

Como qualquer amizade, ou a maioria, bem... Como poucas, chegou um momento em que meus neurônios deram nós em si próprios, me dando certo tipo de convulsão, onde eu já não mandava nas minhas próprias ações e eu só conseguia tremer, tentando assimilar o que se passava com nós dois. Não, eu não quero dizer que nossa história virou um drama romântico, porque não é bem assim, acho até que longe disso, porque os nossos laços fraternais, se eu posso assim dizer, ainda estavam tão conectados. E não era amor de homem e mulher. Eram duas crianças brincando de brincar com si próprios. Até certo momento, logicamente. As pessoas crescem e os sentimentos, algumas vezes, também. Eu podia ser tua amiga de ceder uns beijos se alguma vadia te chutasse por um motivo qualquer. Ou tua amiga de se dar por conta do álcool ou por carência própria. Os amigos são pra isso, não? Pra se dar mesmo. Que sacrifício! (Ironia é meu ponto fraco). Risos. Mas você podia mesmo calar essa boca de vez em quando. Tinha tanto te falado dessa tua mania boba de falar coisas que você realmente não sentia. Você era bom em falar, eu era boa em ouvir. Você era muito bom em falar, eu era muito boa em sentir. E ai eu começava a te odiar, e gostar de te odiar... E a gostar de ti de novo.

A gente era bom mesmo em se exibir à pupila dos outros, as quais se arregalavam curiosas parecendo quererem saber: O que ela é? O que é ele? O que eles são? E nessas horas você me dava as mãos, me arrancava de algum jeito um suspiro e enfrentava o fuzilamento desses olhinhos hipócritas do resto desse mundo, dando os ombros, expondo com gosto nossa relação fraternal, amigável, mãe-e-filho, de irmandade, de casal e de tudo que nos cabia ser. E a única culpa que pesava mesmo era o fato de não podermos ser mais. “Olha só, todos tão olhando pra gente como se fossemos, eu e tu grandes pecadores.” E o “foda-se” que você sussurrava no meu ouvido essas horas soava como uma melodia tecida em cetim, suave, bem doce. E era sempre por isso que eu tinha tanto a urgência de te perdoar mesmo nos piores dos teus erros.

E assim a gente foi vivendo nossa vida, você me amando e achando que podia fazer de mim o que quisesse. Ás vezes tua amiga, ás vezes aquela mulher que tu ia beijar e não ligar no dia seguinte sem se preocupar, e me irritava, me irritava muito, porque parecia que não sabia bem o que tu queria ou sabia, mas achou que eu também não ligasse. Mas por favor, e todas minhas ceninhas de ciúme e meus incômodos com essas menininhas que você andava pra lá e pra cá, toda minha raiva desses teus amores por uma mulher perfeita, toda sob medida pra ti? Eu falei mesmo que era chegada a hora em que isso tava começando a doer, por que eu já não via mais respeito nenhum de você comigo e quanto mais eu implorava, mais você torcia meus neurônios me fazendo perguntar porque tanto descaso assim comigo! “É natural que os homens sejam babacas com as mulheres, mas desde quando eu sou uma mulher pra ti? Antes de qualquer coisa, eu sou tua amiga, não?”. A gente ia trilhando um caminho irreversível de discussões e ofensas que não sei bem ao certo se mais no uniu ou se mais nos separou. Mas com certeza foi fundamental pra fazer dessa nossa história desgraçada um pouco mais bonita, por mais contraditório que isso possa parecer.  

A gente não cabia mais no mesmo espaço com nossos egos inflamados e eu percebi que nossa relação tava totalmente arruinada. Sabe a sensação do nunca-vai-ser-como-antes? Pois é, eu perdi essa fé na gente, porque por mais que eu quisesse te perdoar por tudo, era minha obrigação me colocar em primeiro lugar. Nossa distância nunca foi suficiente pra que eu deixasse de sentir tua falta e pensar em ti em anoiteceres bucólicos, esperando os Arctic Monkeys tocarem no meu celular com o visor acusando teu nome, louca pra dizer adeus ao meu orgulho. Mas na verdade, eu acho mesmo que você nunca mais sentiu nada igual assim por mim. E os anoiteceres só foram ficando mais bucólicos ainda. Eu não queria perder a essência da minha vida e sentia que eu precisava cada vez mais te ter por perto. E eu sempre mantinha contato, mas sempre notando a tua eterna distância de reação não reversível. Numa noite minha de bar, tudo veio á tona e eu te liguei, pedindo pra você me encontrar no meu apartamento.

E eu pedi que me dissesse a verdade se o casso fosse da falta de importância ou de interesse, ainda mesmo se fosse, dolorosamente, falta de amor. Eu ouvi um cara falando uma vez numa propagando de “Grey’s Anatomy” que, buscar a verdade não é quer encontrá-la e sim, eu acredito nele. Eu me encontrei desesperada, gritando e soltando farpas. “Se não se importa, não diz que se importa, se não ama, não diz que ama, mesmo que eu implore por isso”. “É isso que tu quer? Ok, eu não amo mais, já amei mesmo, mas não mais”. O nó que residia na minha garganta há tempos se desfez, eu fui sentando devagar, me afastando de ti e indo pra trás, tentando achar a parede mais próxima. Eu levei as mãos no rosto e achei o chão. Eu fiquei ali, chorando. “Não, não era isso que eu queria, mas talvez seja disso que eu preciso”. Isso parece conformidade, mas ali eu ia morrendo assustadoramente. Eu queria perguntar onde foi que eu errei, mas meu corpo não tinha mais nenhuma reação diante da hemorragia de lágrimas que me consumia.

Desde esse dia você se foi definitivamente, sem deixar rastro da tua sombra. Há mais ou menos dois meses, eu desmaiei enquanto lia a sinopse do novo filme do Wood Allen. Lembrei dos teus conselhos e fui fazer uns exames pra esclarecer tudo e esperava assim, ficar aliviada. Na sala de espera, onde a assistente me oferecia um cafezinho, eu roia o resto das unhas com esmalte escarlate, implorando mentalmente pra que você tivesse sentado no meu lado apertando minha mão, me certificando de que tudo ia ficar bem. Eu entrei na sala, sentei e ouvi. Não lembro direito o besteirol anti-nervosismo que o médico disse antes de dar a tacada final. “É câncer. E infelizmente é um quadro irreversível, você tem mais ou menos uns dois meses de vida”. A última vez que me lembro de ter ficado tão destruída foi quando você me matou pela primeira vez. E aí meus dias estavam condenados a pensar no que fazer a respeito, se não só morrer em vão. Eu tentei te ligar pra contar porque, apesar de tudo, do meu orgulho ferido e do meu coração destroçado, eu não queria ninguém pra olhar por último, se não você. Você se manteve incomunicável e eu passei meus últimos dias apenas morrendo, de todas as formas que alguém pôde um dia sonhar em morrer.

Hoje faz uma semana que eu to deitada nessa cama do hospital. Eu decidi que não queria ficar meus últimos dois meses encarando o verde-sálvia da parede desse cômodo monótono. Só que agora foi irrefutável, porque dessa vez, eu sinto que eu vim aqui pra dizer adeus mesmo. Eu fico aqui me debruçando desesperada me questionando que se existisse algum Deus, esse, não me deixaria ir assim e nem agora. Que se pelo menos eu tivesse que ir por algum motivo, que fosse com você segurando minha mão e olhando meus olhos, acompanhando meus últimos suspiros, sofrendo por mim e comigo. Por que pode até ser que eu não merecesse que você me amasse da forma como eu queria. Mas eu merecia tanta raiva? Eu não acho justo. Hoje, a parte boa disso tudo é que minhas mágoas e todas as perguntas sem respostas que você não soube dar morrerão junto comigo e com isso, eu vou ficar descansada, por que tentar entender toda essa tua falta de apego cansa, viu?

Meus últimos convidados vêm se despedir e eu vejo flores, pessoas chorosas e abraços intermináveis, tentando assimilar tudo, como se o mundo tivesse parado e eu tivesse estática, aguardando, até o último minuto e como sempre, a tua figura aparecer repentinamente por aquela porta. Minha pulsação vai ficando fraca enquanto eu passo a mão na cabeça e caem as sobras do que um dia eu pude chamar de cabelo. Eu me preparo, porque eu sinto que é agora. Eu to chateada, com raiva do mundo, da mulher do 328 que reclama de uma gripezinha banal, de todos e de ti. Enquanto meu coração ainda bate pelos últimos segundos, minhas últimas palavras trêmulas na carta só conseguem ser de compaixão. “Eu fui você e por você todos os dias da minha vida. Eu esperei que fosse recíproco e tentei te falar. Você me ignorou e eu julgo isso um erro, ainda mais nessa minha posição de pobre coitada. Eu sempre te perdoei mesmo quando eu não devia e agora, pela última vez, infelizmente, eu também te perdôo”. Me vêm por último um flash de nossas memórias boas e acho que no auge do meu delírio, eu ouço algum coro de música triste e religiosa cantando pros meus ouvidos. E assim, eu fecho meus olhos e meu coração para. Eu acho que aí eu morro. Mas na verdade, eu já tinha morrido a muito tempo. Se existir mesmo essa fantasia de céu, eu vou olhar por ti. Fica bem!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Medo.



Se não existisse a Clarice Lispector e o Oasis eu teria dó da gente. Seriam quinze minutos, mudos, um de frente pro outro, esperando ansiosamente por esse capuccino que não chega... O mais esperado de todos os tempos. E parece que quanto mais eu vejo o relógio, mais a garçonete torce pela nossa desgraça. Mais aguardado que qualquer resultado de loteria ou teste de gravidez. Pelo menos quando ele chegar, a gente vai poder falar de alguma história de safra de café, de como ele é melhor que o expresso, ou qualquer coisa do tipo. Falar de qualquer besteira que não seja a besteira de sermos apenas eu e você aqui, nesse café, fingindo sermos o casal que não queremos ser.

Uma promessa quebrada é tão boa quanto uma mentira, e tudo isso me cheira a relacionamento. E quanto mais eu respiro esse ar, mas me vem a vontade de perder todo o olfato que me resta. Me vem uma louca vontade de perder tudo aquilo que eu ainda nem possuo, só com medo de provar da felicidade e ter que um dia me desfazer dela. Você diz coisas que não devia dizer, e digo isso não pelo fato disso me fazer sangrar, mas por cada palavra ser doce demais me causando um tipo de diabete, que no caso, só o amor é capaz de transformar esse tumor que a diabete é em uma dúzia de copos de leite. E isso me assusta, profundamente.

O maior risco pra quem não tem nada a perder é ganhar alguma coisa, mesmo que pequena seja. E o maior risco que você corre agora é o de ser feliz, por mais que eu não bote nem um por cento de fé na gente. Das poucas coisas que lembro, relevantes foram momentos de alma, o resto foi mais de corpo mesmo. E eu tenho tanto medo, por que ao mesmo tempo que não somos nada, me imagino como um tudo, só por estar com você. Ta vendo só? Já me deixo levar. Mas apesar de considerar nossos passos como refrões mitológicos, não há Thom Yorke ou Anthony Kieds que consigam embalar nossa própria canção. A gente precisa de muito mais...

A verdade é que enquanto nós somos o problema, nós somos nossa própria solução, e além de nós, quem vai solucionar nosso problema? Quem vai vir nos salvar de nós mesmos? Quando paro pra pensar nessas indagações, me vem a breve lembrança de que se já trato isso como empecilho, é por que algo incomoda, e se algo incomoda, é por que dessa vez o corpo já não sufoca tanto o grito que a alma quer dar. E eu me sufoco de preocupações... Qual vai ser? Eu to disposta a ser feliz? Você pensa algum dia em me fazer feliz? Quanto mais eu espero, mais eu me apavoro e me sinto em pesadelos com o Freddy e o Jason. Algum palpite?

Se pensar em sermos só nós dois me assusta, quem dirá transformar isso em realidade. Quem dirá tirar cada palavrinha desse papel e coloca-las todas em minha boca dizendo estar disposta a ser toda tua, sem nem se quer saber se vale a pena e se a recíproca é verdadeira. É, ai a razão fala mais alto e eu jogo no ar todas as esperanças de ser feliz ou infeliz, quem sabe. Escolho o caminho mais fácil, o menos provável de me fazer sangrar e provavelmente o menos provável de me trazer alguma boa surpresa que não seja o lançamento do novo álbum do The Kooks ou o resultado da prova de penal.

Pode esperar, daqui pra semana que vem o celular toca de novo e serei eu, não arrependida, mas disposta a começarmos aquilo tudo de novo que não tem nem um fim e nem um começo entre nós. Aquele eu e você por acaso por que teve que ser. Aquele eu e você dividindo uma pizza na casa de um amigo em comum. E ei, acredite, quando eu falo é pra valer, por que se já não consigo caminhar de mãos dadas, quem dirá só! E já não importa o que o futuro reserva pra nós, ou melhor, pra mim e pra você, assim, separados por conjunções, vírgulas, ou por puro medo mesmo.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O que nós dois sabiamos.

Ninguém sabia de nós e nem nós mesmos sabíamos ao certo. Pareciam mais duas crianças se acabando nos doces sem medo das diabetes. Dois rebeldes do contra no mundo, sem medo de qualquer conseqüência, senão o medo da bebida acabar e a gente perceber que a gente fez tudo sóbrios e por que quis, não podendo culpar o resto do mundo por nossos erros, se não nós mesmos. Foi mal, a bebida acabou e a vida não é um mar de rosas. Eu podia falar: Diz adeus e vamos encerrar o assunto. Mas eu preferi dizer que isso foi um engano até pra mim mesmo, que eu não tenho culpa de achar que um espinho é uma flor com tanto brilho no olho e tanto sentimento confuso misturado. Eu realmente quis esconder que eu era só mais um cafajeste. Qual deles se entrega tão fácil assim? Mas enfim, era tudo, mas não era amor.
Sentados na minha cama você disse tudo que um cafajeste gostaria de ouvir e não deveria gostar. Falou quase sabendo que eu ia ficar mudo ou falar alguma besteira pra desviar o assunto, ou qualquer coisa que não fosse um “eu também”.  Um silêncio que tinha o poder de machucar mais do que qualquer ofensa. Ah, não fala isso pra mim não, se você sabe que eu não mereço ouvir, pra que falar agora? Era um último gesto de esperança, hein? Por que você achou que eu pudesse dizer que a vida é um conto de fadas e que nele eu sou o cara da tua vida? Mentira. Mesmo eu passando a imagem de melhor do mundo, prestativo e carinhoso, você sempre soube que o máximo que eu podia ser era o sapo. Vai, diz que é isso mesmo. E sim, eu te ajudei, mas você também idealizou.
Eu acho que o amor te dá essa sensação de que por mais que algo seja proibido ou impossível, ainda existe um pedaço firme de terra, mesmo que quase insignificante, em que a gente possa ficar se achando um pouco seguros. Aqueles que colecionam romances impossíveis são simpatizantes dos enfermos que esperam um milagre na cama, sendo paulatinamente derrotados por alguma doença terminal ou então fazem parte dos grupos que acreditam que toda guerra e corrupção vão ser extintos do mundo. Sendo mais claro, são todos adoradores de sonhos, aqueles bem com cara de sonho mesmo, sem nenhum fio de realidade.
Se numa dessas brigas quaisquer você exaltou que nossa história já nasceu pra não da certo, por que cultivou então? Se não tem como prever o futuro, por que arriscar? Quem arrisca um bilhão de reais num jogo, tendo a consciência de que a chance de ganhar é de 0,1%? É, você. Eu só quero dizer que mesmo sendo um cara otário, babaca, idiota e tudo que um cafajeste pode ser, eu não te enterrei sozinha. Todos os teus sonhos e teu otimismo te guiaram pro escuro também.
Fala a verdade. Eu menti, iludi e teoricamente eu estraguei tudo. Mas diz ai, no fundo você já sabia que não podia confiar, que pelo menos não devia, mas preferiu fechar os olhos, varrer a sujeira pra debaixo do tapete, pra no fim das contas, quando eu mostrasse que não era nada disso, você teria motivos pra me procurar, se não fosse pra me amar, que fosse pra jogar tudo na minha cara, cuspindo fogo, falando de tudo que eu prometi e não cumpri, do que eu fiz e não deveria ter feito, esperando desesperadamente que eu olhasse pra ti como nenhuma outra, tocasse teu rosto com cuidado e dissesse que você tava enganada, que realmente era amor, que se eu errei, não foi por mal. Mas você sabe que não é nada disso, não sabe? Sempre soube. Eu sei que sabe, ou pelo menos eu acho que sei.
Ah, então quer dizer que agora eu sou a louca da historia? Já imagino você resmungando. Não, mas não é nada disso não. Isso que eu falei é a realidade, mas a gente pode fingir que a culpa é toda minha. Sabe por quê? Por que eu não vou te culpar por querer amar alguém, mesmo que esse alguém seja eu, e mesmo que eu seja impossível. Eu não vou te culpar por ter fé na cura dos enfermos, na extinção das mazelas do mundo ou dos amores impossíveis. E também não vou dizer que não fui incorreto ou egoísta. Mas você também olhou pra mim da maneira mais doce possível e disse que perdoava alguns defeitos. Eu tenho costume de repelir doçura com a minha amargura e foi ai que eu abusei demais. Então manda bala, eu assumo todos os erros que eu puder. Por que no fim, eu tenho que pelo menos fazer isso por você.
Desculpa mesmo. Por todas as vezes que eu botei lenha na fogueira sem nenhuma pretensão de te fazer inteiramente feliz. Se eu disse que quis por impulso na hora ou por sair te atropelando de todas as formas. Você disse que assim como eu podia fingir que não tinha culpa, eu podia fingir que você não me amava também. Vai em frente. Finge que tudo que eu tenho feito é pouco pra no fim das contas você dar a ótima desculpa de que me machucou por que tinha certeza de que o que eu sentia não era nada demais. Você faz seu show esperando que eu dê audiência e comente, quando na verdade eu só consigo aplaudir e ficar calado pra não dizer: Olha só, eu errei, tudo bem, não deveria ter criado tantas expectativas, mas a verdade é que agora já foi e é tarde demais pra voltar atrás, eu não te amo e ponto final. Foi mal.


sexta-feira, 3 de junho de 2011

Chorando te vendo rindo.

Dizem que quando a esmola é muita o santo desconfia. Vai ver por eu não ser tão santinho assim eu não desconfiei de nada. Muito sorriso, muita paz de espírito, muitos rapazes em volta... Essa era você da última vez que eu te vi. Eu realmente não entendi, você mesma me disse birrenta, fazendo showzinho que não queria mais me ver, que não agüentava mais, que tava sofrendo muito, mais do que podia suportar. Que o coração era até grande, mas a dor maior ainda. E tava lá, esbanjando simpatia e felicidade, como se minha presença não incomodasse e eu já não fizesse mais o coração ficar comprimido com vontade de saltar pela boca. E aquele seu ar de segurança foi saindo, me fazendo sufocar, me deixando simplesmente inseguro.

Eu te deixei em pedaços e nem nego. O que me espanta é esse seu jeito como se nada tivesse acontecido. E se eu gostaria de te ver sofrendo? Não, nem é isso. Mas é da natureza humana querer alguém ali pra te alugar, necessitar e depender de você. Não é nem pra te completar, é somente completar o ego, nada mais. E meu ego tava quase morto. Eu lembrei que há uns dois meses seu telefone tocava com ligações minhas e tudo que eu ouvia era: deixe seu recado. Disse que ia me evitar porque gostava muito de mim e ainda assim eu continuava preferindo colocar tudo na sua frente e estava disposto a perder aquilo que eu mais podia ter: você.

Eu deixei ligações, emails, recados na página de relacionamentos da internet, eu mandei palavras por amigos, eu fiz de tudo pra ouvir qualquer coisa tua e recebi apenas silêncio.  Eu dei uma de inconformado, desesperado e tudo que um menininho de seis anos é quando não ganha o brinquedo que tanto queria. Eu te provoquei de todas as maneiras que eu pude, eu queria ouvir até uma ofensa, qualquer palavra carregada de ódio, qualquer coisa que fosse um sinal de vida. Um sinal de vida seu na minha vida. Você saiu do mundo, foi dar uma volta na lua, sei lá, em qualquer lugar muito longe de mim. Eu te perdi de vista e eu também deixei de procurar.

Quando eu volto pra nossa cidade te encontro num bar e você vira a cara, vai embora e me deixa na vontade de tudo. Aí depois eu pego o avião sem te ver e quando eu posso volto de novo. Dessa vez você é surpreendente de todas as formas. O riso, a cor do cabelo, a cor da pele, a roupa. Ta mais bonita, sabe? Como se tivesse deixado ir embora tudo aquilo que roubava essa beleza escondida, como se tivesse mesmo me deixado ir embora. Tava num canto com as amigas e reparou meu olhar inquieto acompanhando todos os seus passos e performances. Quando eu menos espero vem na minha direção e abre um sorriso como eu nunca vi igual e muito menos merecia. Ta ai um sorriso que me deixou triste... “E ai, tudo bom? Como anda a vida?” Eu fiquei completamente extasiado. Ali eu era só mais um idiota que fiz diferença e agora não faço mais e essa vida era a minha e não mais a nossa. Sabe aquela história “um dia eu ainda vou rir disso”? Exatamente o que ela devia ta pensando.

Eu fiquei mandando todos os meus neurônios pensarem e procurarem qualquer desculpa esfarrapada que justificasse tamanha felicidade e tanto descaso. Ela quer fazer um ar de quem ta bem, quer se mostrar superior, quer fazer ciúmes, qualquer uma dessas besteiras. Mas que nada, é muito mais simples que isso: Ela ta melhor sem mim. As pessoas mudam e as vontades se moldam á cada fase. Ninguém é pra sempre se a gente não se esforçar. Nem pai nem mãe, nem o ex, futuro ou atual. Se a gente não quiser amar e cuidar, as vontades se reciclam e o que era amor vira pouco amor ou amor nenhum. A gente só pensa e sofre por alguém quando a gente se permite. Se a gente quiser, entrega ao tempo e da um jeitinho de dormir em meio á turbulência.

E eu fiquei incomodado, mas tanto, ao ponto de soltar a língua: Ta bem, né? Já me esqueceu? Pra piorar, ela riu, como se tudo isso não passasse de uma besteirinha de uma menina boba que sofreu por amor e agora tem coisa melhor pra fazer. “Que nada, foi muito marcante na minha vida, mas as coisas mudam, não da pra ficar estacionada o tempo inteiro em local proibido, uma hora a gente se toca e toca a vida também”. Por mais açucaradas que tenham sido as palavras, elas desceram com um gosto amargo. Ela podia ter dito: “É, não penso”, mas teve até um discursinho ensaiado, o que não muda nada pra mim, já que tudo quer dizer uma única coisa: Você não é mais nada pra mim.

Não fui eu quem não me conformei em viver sem ti. Eu que não me conformei em te ver sabendo viver sem mim. E agora eu sei o quanto dói.  Seja lá se isso for amor, paixão, necessidade, eu só sei que dói. Dá aquele arrependimento de não te obedecer quando você disse: Fica comigo. Enquanto você fazia meu coração bater, as outras faziam ele parar. Enquanto você cuidava de mim eu cuidava das outras por que eu sou mais um burro em meio a outros bilhões de pessoas que cismam em querer tudo que não podem e serem cegas diante de tudo aquilo que elas precisam, somente aquilo. Aí agora eu fico aqui chorando te vendo rindo. É duro te ver tão bem, com outro alguém, te ver melhor. E fico aqui te ligando até tomar a sua mesma decisão de decidir por quem eu vou me apaixonar, sabendo que você não é mais uma opção.

domingo, 22 de maio de 2011

O mal necessário

Você sempre foi a mais perdida e eu me perdi por você. Enquanto todos os carinhas da faculdade encontravam um jeito de não pegar a falta pra ir beber cerveja e jogar bola, eu fazia questão de reprovar só pra estar agendado nos teus compromissos. Na quadra escura, na sala de professores, vez ou outra no barzinho da esquina. O cigarro que tanto me fazia mal virou meu perfume preferido e os palavrões que me incomodavam viraram música pros meus ouvidos. Teu jeito de morder o piercing da boca, de me dar os ombros quando eu dizia estar com outra, a forma estranha de mascar chiclete e a maneira como bebia como se o mundo fosse acabar acabaram me prendendo de um jeito que me soltar seria perigoso, mais do que sua companhia.
E você me deixa de vez em quando, expondo todo teu egoísmo, com esse teu jeitinho desde criança. Como se tivesse largado a mão dos pais muito cedo, ter ido morar só e como se não precisasse mais de amor. Me deixa sem ligar por uma semana e aparece pra me dizer que ta sentindo falta quando eu to cheio de coisas pra fazer, me fazendo deixar a vida de lado pra ficar no teu apartamento escuro, sem luz no fim do túnel. E me deixa outra e mais outras vezes. Me fazendo te agendar no celular como “não atender” e me deixando com muita raiva por desafiar a vontade do meu próprio telefone, só pra não dormir sem escutar tua voz.
E ás vezes eu queria que fosse diferente. Eu queria te ter só mais um pouco perto, com a quase certeza de que você é minha, por que assim como eu, eu sei que você gosta mesmo de mim. Eu quero ter o medo de arriscar tudo e me preocupar se no momento em que eu te tiver inteira, eu vou continuar te querendo. Eu quero deixar as incertezas de lado e ser teu convidado pra jantar á luz de velas, botando á prova teu dom de mestre cuca pra ver se no final da noite vai ser necessário pedir uma pizza pra não morrer de fome. Mas você não vive com disposição pra ser só minha, e eu fico rezando pelo menos, pra que não esteja á disposição de outro alguém. Por que, ok, até agora tudo bem você sumir uma semana, contando que não suma a vida inteira.
E numa noite qualquer eu te encontro no barzinho, sem ter marcado contigo. E dessa vez eu to muito chateado por que pra mim já deu. E é incrível como aos meus olhos você fica linda com esse drink na mão... você chega mais perto, quando eu já to quase fora de mim, e a primeira coisa que eu penso é sempre a mesma. “Mas e daí? Quando me enterrarem, não vão cravar na lápide que a causa da morte foi amor. No máximo alcoolismo ou depressão. Pois é, de amor eu não morro não.” Dou uma de educado e me permito te deixar em casa. Paro na tua porta e a gente fica sem falar nada, sabendo que esse silêncio quer dizer alguma coisa, que se não quisesse, você já tinha saído do carro. E aí eu deixo de ser tão educado assim e te beijo da melhor forma que faça você ficar só calada e nada mais. Te deixo feliz, adiando minha felicidade pra daqui a muito tempo.  E ai eu sou mais você, deixando de ser mais eu, querendo muito ser “nós”.
E você fez de tudo, eu sei lá porque, pra me fazer sangrar mais umas dez milhões de vezes. Fazendo jus ás palavra de mamãe quando ela me orientou dizendo que você não era mulher pra mim. Como se nada na vida fosse mais importante que isso, sem saber que viajar o mundo era teu objetivo principal. Como se já não fosse difícil o bastante viver e se conformar com a agonia de te ver ás vezes entregue de bandeja a outro e ainda sim ter vontade de gritar alto dentro de mim e no teu ouvido baixinho: Vem pra mim. E é assim, te dizer sim é a maneira mais fácil de ouvir teu não. Te fazer sorrir é o atalho certo pra me fazer chorar. Te querer é o melhor jeito de te perder. Te dar rosas é pedir pra receber espinhos. E eu ainda dou tudo de mim, mesmo sem quase nada pra dar. Você é o mal necessário.
Hoje eu vou embarcar no vôo das 22 sem data pra voltar, levando tua foto na mala e todas as nossas loucuras, fazendo meu coração ficar apertado e confortável ao mesmo tempo, me deixando confuso na idéia de saudade e de saber que eu fiz tudo que eu tinha pra fazer, sem deixar nada pra depois. Que ás vezes se machucar pode não ser tão ruim assim, que não é preciso ter tudo, só é necessário fazer tudo com aquilo que se tem. Fico vendo o relógio esperando dar 02:02 pra achar que você ta pensando em mim, que nem um adolescente sequelado. Fico meio frustrado por sempre só olhar 02:01 ou 02:03, sabendo que você ta sempre adiantada ou atrasada em relação a mim, mas nunca no ponto. E depois, mesmo assim, eu sorrio, só de saber que tudo valeu á pena. E eu digo que quando eu tiver longe eu posso até ser de outra, mas que meu coração vai ta sempre por perto sendo teu. E se não pra sempre, ainda por muito tempo.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O dia cinza

Era uma manhã cinza e fria como outra qualquer, tratando-se do cara da padaria, do rapaz do jornal, e talvez até de mim, se não fosse você. Eu ia ver as notícias do dia, tomar um café, ficar meio á toa, pegar o metrô e fingir que tava tudo bem pro mundo inteiro. Eu ia rir por uns 5 segundos da piadinha do estagiário da empresa, ia trocar uns bilhetes com a secretária que ta super afim de mim, ia bajular o chefe, ia pedir chá na lanchonete, receber leite e reclamar, ouvindo da garçonete: Eu pedi pra casar com o Tom Cruise e o máximo que consegui foi o meu marido. E então eu ia ficar na minha... Coitada. No fim da noite, quando eu tivesse finalmente em casa, eu ia esperar, mais uma vez, você bater na porta segurando frango empanado e “um amor para recordar”. Mas você não bateu e de tudo isso, a única coisa que aconteceu foi o dia cinza e frio.
De todas, você foi a melhor. Sem nenhum tipo de comparação. E eu me arrependo tanto de tudo. Naquele dia no loft, ouvindo “fake plastic trees”, bebendo cerveja na boca e fumando cigarros, só nós dois, minha vida mudou pra sempre. Naquele típico momento onde enquanto a gente ri exageradamente os olhares se distraem e quando o silêncio surge os olhares se cruzam, fixamente, você disse o que queria dizer há tempos e disse de assalto pra não perder a coragem. E o silêncio é aquele momento perfeito pra gente ouvir o que não quer e falar o que quer. Você disse “eu te amo” e eu quase disse “ok”, mas pra não ser insensível demais eu disfarcei com “eu também”. Mas se aquele era o momento, você não quis usar disfarces. “Eu te amo de todos os jeitos possíveis, eu te amo como amiga e infelizmente eu consegui te amar como mulher”. E eu fiquei calado, você partiu. Nada mais justo.
De qualquer maneira, mesmo que eu não sentisse nada eu gostaria de ter ouvido. E por algum motivo idiota eu disse que gostei de ter ouvido, te alimentando falsas esperanças e te tirando cada vez mais do meu alcance. E dito e feito. De Lá pra cá o máximo que eu consegui foi fazer com que você me repudiasse, me odiasse, levando tudo pra uma discussão em vão. Essas, tomando conta das nossas conversas no mínimo alegres, até as mais bobinhas. E na última vez que eu ouvi tua voz você disse que era melhor a gente parar de se ver pra você não ter o desprazer de continuar me amando e me explicou que existem as pessoas que querem e as pessoas que podem. E você ficava no primeiro grupo, que era melhor me guardar como uma boa lembrança do que me aguardar como a maior pendência.
E eu acatei tua decisão pra que? Só pra dar uma de orgulhoso. E mesmo sendo o errado da história eu deixei de te procurar. Eu machuquei aquilo que eu mais amava, mas não amava como deveria. Eu te deixei sair, esperando que você me procurasse e não o contrário. Foi a coisa mais em vão que já aconteceu em todos os tempos. Uns dois meses passaram e enquanto você deixava de me amar, eu te amava mais ainda. E eu cheguei á conclusão que é mais fácil ficar calado ou dizer algo que a gente não sente do que falar do que é verdadeiro, tipo quando eu digo que mais te odeio do que te amo.
Exatamente ás 09:10 daquele dia cinzento,  o visor do celular é estampado com “amiga chata da Ana” ligando. E eu fico naquela: Agora? Por que? Se nem Ana me liga mais, porque a amiga ligaria? E sem mais rodeios eu atendi. “Eu preciso te dar uma péssima notícia, teve um tiroteio...” Meu coração parou, fazendo todo o resto do corpo ficar estático. Minha princesinha me deixou de vez, tirando todas as minhas esperanças de que um dia seria ela tocando a campainha com frango e filme na mão. E eu me senti um fracasso por não ter dito tudo aquilo que eu queria, por não ser corajoso como ela e nem ser tão bom pra ela. Me deixando o peso de que eu não deveria deixar as coisas pro dia seguinte.
Eu nunca senti como seria planejar um suicídio e nem era preciso depois que a amiga dela disse que Ana tinha um ultimo recado, aquilo sim me matou pra sempre. “Naquele momento, os olhos escorriam lagrimas mais do que o corpo sangrava. No meio do caos e dos gritos, a pobrezinha tentava gritar mais alto que todo mundo. Ela pegou todo o ar que restava e no meio dos suspiros quase que inexistentes ela disse: diz pra ele que hoje eu só o deixo de amar porque eu não consigo mais viver. E eu tive que aprender da forma mais bruta a esquecer ele, talvez a única forma de esquecer... E as palavras acabaram sem nem dar tempo de fechar os olhos.” Se teve um momento na minha vida em que eu me senti a pior pessoa do mundo, o momento foi esse.
Eu só queria me desculpar por te comprar um coroa de rosas e não um buquê de orquídeas. Te dizer que eu me arrependo de não cuidar melhor de você.  Que há milhões de pedaços meus que te querem e há outros bilhões que tentam não querer. E infelizmente essa matemática não serve pro meu coração. Enquanto um décimo do ventrículo esquerdo quer te odiar por ir, todo o resto te ama. Que eu queria acordar na tua cama numa manhã qualquer e me espantar por abrir meus olhos e você não estar mais do lado... E depois me surpreender mais ainda por você aparecer vestida em trapos com café e pãozinho nas mãos. E eu sei que você queria ouvir da minha boca que seria difícil viver sem todos, mas que seria impossível viver sem ti. E no fim, eu queria te dizer que isso é exatamente o que eu sinto. E falar que espero que não seja tarde, sabendo que é, pra resumir o que foi o nosso amor em quatro palavras: pessoa certa, hora errada. E em outras quatro, dizer o que eu realmente quero: Te amarei pra sempre.

sábado, 16 de abril de 2011

De mal a pior

Sintam-se a vontade para me chamar de covarde ou qualquer coisa do tipo. Eu desisti de você. Ou melhor, de querer você. E tenho merecido um 10 no meu trabalho. A lição de casa tem sido feita como eu nunca fiz na escola. O esforço pode machucar, mas leva a algum lugar bom, pelo menos melhor que aqui. Com você, ou melhor, sem você. Eu percebi que não ter teu ombro pra chorar não é tão difícil assim. E ok, tudo bem, eu consigo pegar o transito e a chuva, ficar acabada no fim do dia e não te ter por perto pra diminuir todo esse caos da cidade. Mas sempre há um porém...
As vezes eu sinto saudade de te amar, eu sinto saudade de sentir saudade. E eu ainda te amo? Diz que eu to certa, diz que não. Se eu não tivesse tão ocupada com isso, até daria tempo pra fazer um lanchinho da tarde. É meio que inexplicável porque agora a lagrima só cai se eu forçar muito. Se eu ouvir Seaside de The kooks numa tarde fria de ressaca, de saudade, essa, que tem sido rara. Se você passar na mente, assim, meio de leve, despercebido, não fica por muito tempo, vai fácil. Vai mais fácil do que chegou. É incrível como você foi de mal a pior.
Mas no fundo, eu fico assim, louca pra te encontrar em qualquer esquina de supermercado, do outro lado da vitrine. Algum lugar realmente concreto, que não seja aqui no coração. Te achar no meio de cifras e rimas de uma musica bonitinha qualquer. Isso responde a minha primeira pergunta? Mas pra que isso agora? Eu to quase lá. Meu esforço diário ta quase valendo à pena. Eu nunca senti que falta tão pouco assim pra chegar onde eu sempre quis. Te esquecer, eu sem você e todo esse blá blá blá.
Isso é puro terrorismo. É frágil. E mesmo com toda aquela estrutura, com todo trabalho, aquilo que se levou anos para ser construído, estilo Old Trade Center, é abalado em questão de segundos. Você e seus aviões... Às vezes da vontade de apertar o botão do “send” e enviar um eu te amo numa noite qualquer, te pedindo em seguida que não responda nada pra não desarmar todo escudo que eu tenho formado, ainda sim, com essas ferramentas enferrujadas. Eu tenho muito medo de ser o Old Trade Center. Hoje eu chorei, mas as lagrimas cabiam no bolso, como não é de costume. E é realmente melhor mesmo parar por ai. Enchente assim, só é bonito se for em Veneza.
A única coisa ruim dessa história é que por mais que você vá, a esperança fica. Por que logo eu, a pessoa mais realista e pessimista do mundo encontra um jeito ridículo de achar que essa história ainda pode ter essa droga de final feliz? É totalmente contra minha vontade, é mais irritante do que te querer, assim, propriamente dito. Da vontade de dormir e pedir que me acordem só quando esse inferno acabar. Vou continuar trabalhando nisso, pro seu bem, pro meu, pro nosso bem.
E agora eu fico querendo achar alguém ali na porta do lado. Esperando alguém que não seja você. Um carinha pra me levar cupcakes ás 23:00, depois de um dia árduo de trabalho. E naquele momento, com os pés mergulhados numa bacia com água quente, a felicidade é plena, não da vontade de largar nunca. Que se dane a dieta e o cansaço. Devoraria os cupcakes, abraçaria tanto ele ao ponto de parecer ridículo pra cacete. E é verdade, a gente sempre arranja um jeito de ser feliz. Com ou sem você, assim eu espero.