domingo, 22 de maio de 2011

O mal necessário

Você sempre foi a mais perdida e eu me perdi por você. Enquanto todos os carinhas da faculdade encontravam um jeito de não pegar a falta pra ir beber cerveja e jogar bola, eu fazia questão de reprovar só pra estar agendado nos teus compromissos. Na quadra escura, na sala de professores, vez ou outra no barzinho da esquina. O cigarro que tanto me fazia mal virou meu perfume preferido e os palavrões que me incomodavam viraram música pros meus ouvidos. Teu jeito de morder o piercing da boca, de me dar os ombros quando eu dizia estar com outra, a forma estranha de mascar chiclete e a maneira como bebia como se o mundo fosse acabar acabaram me prendendo de um jeito que me soltar seria perigoso, mais do que sua companhia.
E você me deixa de vez em quando, expondo todo teu egoísmo, com esse teu jeitinho desde criança. Como se tivesse largado a mão dos pais muito cedo, ter ido morar só e como se não precisasse mais de amor. Me deixa sem ligar por uma semana e aparece pra me dizer que ta sentindo falta quando eu to cheio de coisas pra fazer, me fazendo deixar a vida de lado pra ficar no teu apartamento escuro, sem luz no fim do túnel. E me deixa outra e mais outras vezes. Me fazendo te agendar no celular como “não atender” e me deixando com muita raiva por desafiar a vontade do meu próprio telefone, só pra não dormir sem escutar tua voz.
E ás vezes eu queria que fosse diferente. Eu queria te ter só mais um pouco perto, com a quase certeza de que você é minha, por que assim como eu, eu sei que você gosta mesmo de mim. Eu quero ter o medo de arriscar tudo e me preocupar se no momento em que eu te tiver inteira, eu vou continuar te querendo. Eu quero deixar as incertezas de lado e ser teu convidado pra jantar á luz de velas, botando á prova teu dom de mestre cuca pra ver se no final da noite vai ser necessário pedir uma pizza pra não morrer de fome. Mas você não vive com disposição pra ser só minha, e eu fico rezando pelo menos, pra que não esteja á disposição de outro alguém. Por que, ok, até agora tudo bem você sumir uma semana, contando que não suma a vida inteira.
E numa noite qualquer eu te encontro no barzinho, sem ter marcado contigo. E dessa vez eu to muito chateado por que pra mim já deu. E é incrível como aos meus olhos você fica linda com esse drink na mão... você chega mais perto, quando eu já to quase fora de mim, e a primeira coisa que eu penso é sempre a mesma. “Mas e daí? Quando me enterrarem, não vão cravar na lápide que a causa da morte foi amor. No máximo alcoolismo ou depressão. Pois é, de amor eu não morro não.” Dou uma de educado e me permito te deixar em casa. Paro na tua porta e a gente fica sem falar nada, sabendo que esse silêncio quer dizer alguma coisa, que se não quisesse, você já tinha saído do carro. E aí eu deixo de ser tão educado assim e te beijo da melhor forma que faça você ficar só calada e nada mais. Te deixo feliz, adiando minha felicidade pra daqui a muito tempo.  E ai eu sou mais você, deixando de ser mais eu, querendo muito ser “nós”.
E você fez de tudo, eu sei lá porque, pra me fazer sangrar mais umas dez milhões de vezes. Fazendo jus ás palavra de mamãe quando ela me orientou dizendo que você não era mulher pra mim. Como se nada na vida fosse mais importante que isso, sem saber que viajar o mundo era teu objetivo principal. Como se já não fosse difícil o bastante viver e se conformar com a agonia de te ver ás vezes entregue de bandeja a outro e ainda sim ter vontade de gritar alto dentro de mim e no teu ouvido baixinho: Vem pra mim. E é assim, te dizer sim é a maneira mais fácil de ouvir teu não. Te fazer sorrir é o atalho certo pra me fazer chorar. Te querer é o melhor jeito de te perder. Te dar rosas é pedir pra receber espinhos. E eu ainda dou tudo de mim, mesmo sem quase nada pra dar. Você é o mal necessário.
Hoje eu vou embarcar no vôo das 22 sem data pra voltar, levando tua foto na mala e todas as nossas loucuras, fazendo meu coração ficar apertado e confortável ao mesmo tempo, me deixando confuso na idéia de saudade e de saber que eu fiz tudo que eu tinha pra fazer, sem deixar nada pra depois. Que ás vezes se machucar pode não ser tão ruim assim, que não é preciso ter tudo, só é necessário fazer tudo com aquilo que se tem. Fico vendo o relógio esperando dar 02:02 pra achar que você ta pensando em mim, que nem um adolescente sequelado. Fico meio frustrado por sempre só olhar 02:01 ou 02:03, sabendo que você ta sempre adiantada ou atrasada em relação a mim, mas nunca no ponto. E depois, mesmo assim, eu sorrio, só de saber que tudo valeu á pena. E eu digo que quando eu tiver longe eu posso até ser de outra, mas que meu coração vai ta sempre por perto sendo teu. E se não pra sempre, ainda por muito tempo.

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