sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Medo.



Se não existisse a Clarice Lispector e o Oasis eu teria dó da gente. Seriam quinze minutos, mudos, um de frente pro outro, esperando ansiosamente por esse capuccino que não chega... O mais esperado de todos os tempos. E parece que quanto mais eu vejo o relógio, mais a garçonete torce pela nossa desgraça. Mais aguardado que qualquer resultado de loteria ou teste de gravidez. Pelo menos quando ele chegar, a gente vai poder falar de alguma história de safra de café, de como ele é melhor que o expresso, ou qualquer coisa do tipo. Falar de qualquer besteira que não seja a besteira de sermos apenas eu e você aqui, nesse café, fingindo sermos o casal que não queremos ser.

Uma promessa quebrada é tão boa quanto uma mentira, e tudo isso me cheira a relacionamento. E quanto mais eu respiro esse ar, mas me vem a vontade de perder todo o olfato que me resta. Me vem uma louca vontade de perder tudo aquilo que eu ainda nem possuo, só com medo de provar da felicidade e ter que um dia me desfazer dela. Você diz coisas que não devia dizer, e digo isso não pelo fato disso me fazer sangrar, mas por cada palavra ser doce demais me causando um tipo de diabete, que no caso, só o amor é capaz de transformar esse tumor que a diabete é em uma dúzia de copos de leite. E isso me assusta, profundamente.

O maior risco pra quem não tem nada a perder é ganhar alguma coisa, mesmo que pequena seja. E o maior risco que você corre agora é o de ser feliz, por mais que eu não bote nem um por cento de fé na gente. Das poucas coisas que lembro, relevantes foram momentos de alma, o resto foi mais de corpo mesmo. E eu tenho tanto medo, por que ao mesmo tempo que não somos nada, me imagino como um tudo, só por estar com você. Ta vendo só? Já me deixo levar. Mas apesar de considerar nossos passos como refrões mitológicos, não há Thom Yorke ou Anthony Kieds que consigam embalar nossa própria canção. A gente precisa de muito mais...

A verdade é que enquanto nós somos o problema, nós somos nossa própria solução, e além de nós, quem vai solucionar nosso problema? Quem vai vir nos salvar de nós mesmos? Quando paro pra pensar nessas indagações, me vem a breve lembrança de que se já trato isso como empecilho, é por que algo incomoda, e se algo incomoda, é por que dessa vez o corpo já não sufoca tanto o grito que a alma quer dar. E eu me sufoco de preocupações... Qual vai ser? Eu to disposta a ser feliz? Você pensa algum dia em me fazer feliz? Quanto mais eu espero, mais eu me apavoro e me sinto em pesadelos com o Freddy e o Jason. Algum palpite?

Se pensar em sermos só nós dois me assusta, quem dirá transformar isso em realidade. Quem dirá tirar cada palavrinha desse papel e coloca-las todas em minha boca dizendo estar disposta a ser toda tua, sem nem se quer saber se vale a pena e se a recíproca é verdadeira. É, ai a razão fala mais alto e eu jogo no ar todas as esperanças de ser feliz ou infeliz, quem sabe. Escolho o caminho mais fácil, o menos provável de me fazer sangrar e provavelmente o menos provável de me trazer alguma boa surpresa que não seja o lançamento do novo álbum do The Kooks ou o resultado da prova de penal.

Pode esperar, daqui pra semana que vem o celular toca de novo e serei eu, não arrependida, mas disposta a começarmos aquilo tudo de novo que não tem nem um fim e nem um começo entre nós. Aquele eu e você por acaso por que teve que ser. Aquele eu e você dividindo uma pizza na casa de um amigo em comum. E ei, acredite, quando eu falo é pra valer, por que se já não consigo caminhar de mãos dadas, quem dirá só! E já não importa o que o futuro reserva pra nós, ou melhor, pra mim e pra você, assim, separados por conjunções, vírgulas, ou por puro medo mesmo.

quinta-feira, 30 de junho de 2011

O que nós dois sabiamos.

Ninguém sabia de nós e nem nós mesmos sabíamos ao certo. Pareciam mais duas crianças se acabando nos doces sem medo das diabetes. Dois rebeldes do contra no mundo, sem medo de qualquer conseqüência, senão o medo da bebida acabar e a gente perceber que a gente fez tudo sóbrios e por que quis, não podendo culpar o resto do mundo por nossos erros, se não nós mesmos. Foi mal, a bebida acabou e a vida não é um mar de rosas. Eu podia falar: Diz adeus e vamos encerrar o assunto. Mas eu preferi dizer que isso foi um engano até pra mim mesmo, que eu não tenho culpa de achar que um espinho é uma flor com tanto brilho no olho e tanto sentimento confuso misturado. Eu realmente quis esconder que eu era só mais um cafajeste. Qual deles se entrega tão fácil assim? Mas enfim, era tudo, mas não era amor.
Sentados na minha cama você disse tudo que um cafajeste gostaria de ouvir e não deveria gostar. Falou quase sabendo que eu ia ficar mudo ou falar alguma besteira pra desviar o assunto, ou qualquer coisa que não fosse um “eu também”.  Um silêncio que tinha o poder de machucar mais do que qualquer ofensa. Ah, não fala isso pra mim não, se você sabe que eu não mereço ouvir, pra que falar agora? Era um último gesto de esperança, hein? Por que você achou que eu pudesse dizer que a vida é um conto de fadas e que nele eu sou o cara da tua vida? Mentira. Mesmo eu passando a imagem de melhor do mundo, prestativo e carinhoso, você sempre soube que o máximo que eu podia ser era o sapo. Vai, diz que é isso mesmo. E sim, eu te ajudei, mas você também idealizou.
Eu acho que o amor te dá essa sensação de que por mais que algo seja proibido ou impossível, ainda existe um pedaço firme de terra, mesmo que quase insignificante, em que a gente possa ficar se achando um pouco seguros. Aqueles que colecionam romances impossíveis são simpatizantes dos enfermos que esperam um milagre na cama, sendo paulatinamente derrotados por alguma doença terminal ou então fazem parte dos grupos que acreditam que toda guerra e corrupção vão ser extintos do mundo. Sendo mais claro, são todos adoradores de sonhos, aqueles bem com cara de sonho mesmo, sem nenhum fio de realidade.
Se numa dessas brigas quaisquer você exaltou que nossa história já nasceu pra não da certo, por que cultivou então? Se não tem como prever o futuro, por que arriscar? Quem arrisca um bilhão de reais num jogo, tendo a consciência de que a chance de ganhar é de 0,1%? É, você. Eu só quero dizer que mesmo sendo um cara otário, babaca, idiota e tudo que um cafajeste pode ser, eu não te enterrei sozinha. Todos os teus sonhos e teu otimismo te guiaram pro escuro também.
Fala a verdade. Eu menti, iludi e teoricamente eu estraguei tudo. Mas diz ai, no fundo você já sabia que não podia confiar, que pelo menos não devia, mas preferiu fechar os olhos, varrer a sujeira pra debaixo do tapete, pra no fim das contas, quando eu mostrasse que não era nada disso, você teria motivos pra me procurar, se não fosse pra me amar, que fosse pra jogar tudo na minha cara, cuspindo fogo, falando de tudo que eu prometi e não cumpri, do que eu fiz e não deveria ter feito, esperando desesperadamente que eu olhasse pra ti como nenhuma outra, tocasse teu rosto com cuidado e dissesse que você tava enganada, que realmente era amor, que se eu errei, não foi por mal. Mas você sabe que não é nada disso, não sabe? Sempre soube. Eu sei que sabe, ou pelo menos eu acho que sei.
Ah, então quer dizer que agora eu sou a louca da historia? Já imagino você resmungando. Não, mas não é nada disso não. Isso que eu falei é a realidade, mas a gente pode fingir que a culpa é toda minha. Sabe por quê? Por que eu não vou te culpar por querer amar alguém, mesmo que esse alguém seja eu, e mesmo que eu seja impossível. Eu não vou te culpar por ter fé na cura dos enfermos, na extinção das mazelas do mundo ou dos amores impossíveis. E também não vou dizer que não fui incorreto ou egoísta. Mas você também olhou pra mim da maneira mais doce possível e disse que perdoava alguns defeitos. Eu tenho costume de repelir doçura com a minha amargura e foi ai que eu abusei demais. Então manda bala, eu assumo todos os erros que eu puder. Por que no fim, eu tenho que pelo menos fazer isso por você.
Desculpa mesmo. Por todas as vezes que eu botei lenha na fogueira sem nenhuma pretensão de te fazer inteiramente feliz. Se eu disse que quis por impulso na hora ou por sair te atropelando de todas as formas. Você disse que assim como eu podia fingir que não tinha culpa, eu podia fingir que você não me amava também. Vai em frente. Finge que tudo que eu tenho feito é pouco pra no fim das contas você dar a ótima desculpa de que me machucou por que tinha certeza de que o que eu sentia não era nada demais. Você faz seu show esperando que eu dê audiência e comente, quando na verdade eu só consigo aplaudir e ficar calado pra não dizer: Olha só, eu errei, tudo bem, não deveria ter criado tantas expectativas, mas a verdade é que agora já foi e é tarde demais pra voltar atrás, eu não te amo e ponto final. Foi mal.


sexta-feira, 3 de junho de 2011

Chorando te vendo rindo.

Dizem que quando a esmola é muita o santo desconfia. Vai ver por eu não ser tão santinho assim eu não desconfiei de nada. Muito sorriso, muita paz de espírito, muitos rapazes em volta... Essa era você da última vez que eu te vi. Eu realmente não entendi, você mesma me disse birrenta, fazendo showzinho que não queria mais me ver, que não agüentava mais, que tava sofrendo muito, mais do que podia suportar. Que o coração era até grande, mas a dor maior ainda. E tava lá, esbanjando simpatia e felicidade, como se minha presença não incomodasse e eu já não fizesse mais o coração ficar comprimido com vontade de saltar pela boca. E aquele seu ar de segurança foi saindo, me fazendo sufocar, me deixando simplesmente inseguro.

Eu te deixei em pedaços e nem nego. O que me espanta é esse seu jeito como se nada tivesse acontecido. E se eu gostaria de te ver sofrendo? Não, nem é isso. Mas é da natureza humana querer alguém ali pra te alugar, necessitar e depender de você. Não é nem pra te completar, é somente completar o ego, nada mais. E meu ego tava quase morto. Eu lembrei que há uns dois meses seu telefone tocava com ligações minhas e tudo que eu ouvia era: deixe seu recado. Disse que ia me evitar porque gostava muito de mim e ainda assim eu continuava preferindo colocar tudo na sua frente e estava disposto a perder aquilo que eu mais podia ter: você.

Eu deixei ligações, emails, recados na página de relacionamentos da internet, eu mandei palavras por amigos, eu fiz de tudo pra ouvir qualquer coisa tua e recebi apenas silêncio.  Eu dei uma de inconformado, desesperado e tudo que um menininho de seis anos é quando não ganha o brinquedo que tanto queria. Eu te provoquei de todas as maneiras que eu pude, eu queria ouvir até uma ofensa, qualquer palavra carregada de ódio, qualquer coisa que fosse um sinal de vida. Um sinal de vida seu na minha vida. Você saiu do mundo, foi dar uma volta na lua, sei lá, em qualquer lugar muito longe de mim. Eu te perdi de vista e eu também deixei de procurar.

Quando eu volto pra nossa cidade te encontro num bar e você vira a cara, vai embora e me deixa na vontade de tudo. Aí depois eu pego o avião sem te ver e quando eu posso volto de novo. Dessa vez você é surpreendente de todas as formas. O riso, a cor do cabelo, a cor da pele, a roupa. Ta mais bonita, sabe? Como se tivesse deixado ir embora tudo aquilo que roubava essa beleza escondida, como se tivesse mesmo me deixado ir embora. Tava num canto com as amigas e reparou meu olhar inquieto acompanhando todos os seus passos e performances. Quando eu menos espero vem na minha direção e abre um sorriso como eu nunca vi igual e muito menos merecia. Ta ai um sorriso que me deixou triste... “E ai, tudo bom? Como anda a vida?” Eu fiquei completamente extasiado. Ali eu era só mais um idiota que fiz diferença e agora não faço mais e essa vida era a minha e não mais a nossa. Sabe aquela história “um dia eu ainda vou rir disso”? Exatamente o que ela devia ta pensando.

Eu fiquei mandando todos os meus neurônios pensarem e procurarem qualquer desculpa esfarrapada que justificasse tamanha felicidade e tanto descaso. Ela quer fazer um ar de quem ta bem, quer se mostrar superior, quer fazer ciúmes, qualquer uma dessas besteiras. Mas que nada, é muito mais simples que isso: Ela ta melhor sem mim. As pessoas mudam e as vontades se moldam á cada fase. Ninguém é pra sempre se a gente não se esforçar. Nem pai nem mãe, nem o ex, futuro ou atual. Se a gente não quiser amar e cuidar, as vontades se reciclam e o que era amor vira pouco amor ou amor nenhum. A gente só pensa e sofre por alguém quando a gente se permite. Se a gente quiser, entrega ao tempo e da um jeitinho de dormir em meio á turbulência.

E eu fiquei incomodado, mas tanto, ao ponto de soltar a língua: Ta bem, né? Já me esqueceu? Pra piorar, ela riu, como se tudo isso não passasse de uma besteirinha de uma menina boba que sofreu por amor e agora tem coisa melhor pra fazer. “Que nada, foi muito marcante na minha vida, mas as coisas mudam, não da pra ficar estacionada o tempo inteiro em local proibido, uma hora a gente se toca e toca a vida também”. Por mais açucaradas que tenham sido as palavras, elas desceram com um gosto amargo. Ela podia ter dito: “É, não penso”, mas teve até um discursinho ensaiado, o que não muda nada pra mim, já que tudo quer dizer uma única coisa: Você não é mais nada pra mim.

Não fui eu quem não me conformei em viver sem ti. Eu que não me conformei em te ver sabendo viver sem mim. E agora eu sei o quanto dói.  Seja lá se isso for amor, paixão, necessidade, eu só sei que dói. Dá aquele arrependimento de não te obedecer quando você disse: Fica comigo. Enquanto você fazia meu coração bater, as outras faziam ele parar. Enquanto você cuidava de mim eu cuidava das outras por que eu sou mais um burro em meio a outros bilhões de pessoas que cismam em querer tudo que não podem e serem cegas diante de tudo aquilo que elas precisam, somente aquilo. Aí agora eu fico aqui chorando te vendo rindo. É duro te ver tão bem, com outro alguém, te ver melhor. E fico aqui te ligando até tomar a sua mesma decisão de decidir por quem eu vou me apaixonar, sabendo que você não é mais uma opção.

domingo, 22 de maio de 2011

O mal necessário

Você sempre foi a mais perdida e eu me perdi por você. Enquanto todos os carinhas da faculdade encontravam um jeito de não pegar a falta pra ir beber cerveja e jogar bola, eu fazia questão de reprovar só pra estar agendado nos teus compromissos. Na quadra escura, na sala de professores, vez ou outra no barzinho da esquina. O cigarro que tanto me fazia mal virou meu perfume preferido e os palavrões que me incomodavam viraram música pros meus ouvidos. Teu jeito de morder o piercing da boca, de me dar os ombros quando eu dizia estar com outra, a forma estranha de mascar chiclete e a maneira como bebia como se o mundo fosse acabar acabaram me prendendo de um jeito que me soltar seria perigoso, mais do que sua companhia.
E você me deixa de vez em quando, expondo todo teu egoísmo, com esse teu jeitinho desde criança. Como se tivesse largado a mão dos pais muito cedo, ter ido morar só e como se não precisasse mais de amor. Me deixa sem ligar por uma semana e aparece pra me dizer que ta sentindo falta quando eu to cheio de coisas pra fazer, me fazendo deixar a vida de lado pra ficar no teu apartamento escuro, sem luz no fim do túnel. E me deixa outra e mais outras vezes. Me fazendo te agendar no celular como “não atender” e me deixando com muita raiva por desafiar a vontade do meu próprio telefone, só pra não dormir sem escutar tua voz.
E ás vezes eu queria que fosse diferente. Eu queria te ter só mais um pouco perto, com a quase certeza de que você é minha, por que assim como eu, eu sei que você gosta mesmo de mim. Eu quero ter o medo de arriscar tudo e me preocupar se no momento em que eu te tiver inteira, eu vou continuar te querendo. Eu quero deixar as incertezas de lado e ser teu convidado pra jantar á luz de velas, botando á prova teu dom de mestre cuca pra ver se no final da noite vai ser necessário pedir uma pizza pra não morrer de fome. Mas você não vive com disposição pra ser só minha, e eu fico rezando pelo menos, pra que não esteja á disposição de outro alguém. Por que, ok, até agora tudo bem você sumir uma semana, contando que não suma a vida inteira.
E numa noite qualquer eu te encontro no barzinho, sem ter marcado contigo. E dessa vez eu to muito chateado por que pra mim já deu. E é incrível como aos meus olhos você fica linda com esse drink na mão... você chega mais perto, quando eu já to quase fora de mim, e a primeira coisa que eu penso é sempre a mesma. “Mas e daí? Quando me enterrarem, não vão cravar na lápide que a causa da morte foi amor. No máximo alcoolismo ou depressão. Pois é, de amor eu não morro não.” Dou uma de educado e me permito te deixar em casa. Paro na tua porta e a gente fica sem falar nada, sabendo que esse silêncio quer dizer alguma coisa, que se não quisesse, você já tinha saído do carro. E aí eu deixo de ser tão educado assim e te beijo da melhor forma que faça você ficar só calada e nada mais. Te deixo feliz, adiando minha felicidade pra daqui a muito tempo.  E ai eu sou mais você, deixando de ser mais eu, querendo muito ser “nós”.
E você fez de tudo, eu sei lá porque, pra me fazer sangrar mais umas dez milhões de vezes. Fazendo jus ás palavra de mamãe quando ela me orientou dizendo que você não era mulher pra mim. Como se nada na vida fosse mais importante que isso, sem saber que viajar o mundo era teu objetivo principal. Como se já não fosse difícil o bastante viver e se conformar com a agonia de te ver ás vezes entregue de bandeja a outro e ainda sim ter vontade de gritar alto dentro de mim e no teu ouvido baixinho: Vem pra mim. E é assim, te dizer sim é a maneira mais fácil de ouvir teu não. Te fazer sorrir é o atalho certo pra me fazer chorar. Te querer é o melhor jeito de te perder. Te dar rosas é pedir pra receber espinhos. E eu ainda dou tudo de mim, mesmo sem quase nada pra dar. Você é o mal necessário.
Hoje eu vou embarcar no vôo das 22 sem data pra voltar, levando tua foto na mala e todas as nossas loucuras, fazendo meu coração ficar apertado e confortável ao mesmo tempo, me deixando confuso na idéia de saudade e de saber que eu fiz tudo que eu tinha pra fazer, sem deixar nada pra depois. Que ás vezes se machucar pode não ser tão ruim assim, que não é preciso ter tudo, só é necessário fazer tudo com aquilo que se tem. Fico vendo o relógio esperando dar 02:02 pra achar que você ta pensando em mim, que nem um adolescente sequelado. Fico meio frustrado por sempre só olhar 02:01 ou 02:03, sabendo que você ta sempre adiantada ou atrasada em relação a mim, mas nunca no ponto. E depois, mesmo assim, eu sorrio, só de saber que tudo valeu á pena. E eu digo que quando eu tiver longe eu posso até ser de outra, mas que meu coração vai ta sempre por perto sendo teu. E se não pra sempre, ainda por muito tempo.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O dia cinza

Era uma manhã cinza e fria como outra qualquer, tratando-se do cara da padaria, do rapaz do jornal, e talvez até de mim, se não fosse você. Eu ia ver as notícias do dia, tomar um café, ficar meio á toa, pegar o metrô e fingir que tava tudo bem pro mundo inteiro. Eu ia rir por uns 5 segundos da piadinha do estagiário da empresa, ia trocar uns bilhetes com a secretária que ta super afim de mim, ia bajular o chefe, ia pedir chá na lanchonete, receber leite e reclamar, ouvindo da garçonete: Eu pedi pra casar com o Tom Cruise e o máximo que consegui foi o meu marido. E então eu ia ficar na minha... Coitada. No fim da noite, quando eu tivesse finalmente em casa, eu ia esperar, mais uma vez, você bater na porta segurando frango empanado e “um amor para recordar”. Mas você não bateu e de tudo isso, a única coisa que aconteceu foi o dia cinza e frio.
De todas, você foi a melhor. Sem nenhum tipo de comparação. E eu me arrependo tanto de tudo. Naquele dia no loft, ouvindo “fake plastic trees”, bebendo cerveja na boca e fumando cigarros, só nós dois, minha vida mudou pra sempre. Naquele típico momento onde enquanto a gente ri exageradamente os olhares se distraem e quando o silêncio surge os olhares se cruzam, fixamente, você disse o que queria dizer há tempos e disse de assalto pra não perder a coragem. E o silêncio é aquele momento perfeito pra gente ouvir o que não quer e falar o que quer. Você disse “eu te amo” e eu quase disse “ok”, mas pra não ser insensível demais eu disfarcei com “eu também”. Mas se aquele era o momento, você não quis usar disfarces. “Eu te amo de todos os jeitos possíveis, eu te amo como amiga e infelizmente eu consegui te amar como mulher”. E eu fiquei calado, você partiu. Nada mais justo.
De qualquer maneira, mesmo que eu não sentisse nada eu gostaria de ter ouvido. E por algum motivo idiota eu disse que gostei de ter ouvido, te alimentando falsas esperanças e te tirando cada vez mais do meu alcance. E dito e feito. De Lá pra cá o máximo que eu consegui foi fazer com que você me repudiasse, me odiasse, levando tudo pra uma discussão em vão. Essas, tomando conta das nossas conversas no mínimo alegres, até as mais bobinhas. E na última vez que eu ouvi tua voz você disse que era melhor a gente parar de se ver pra você não ter o desprazer de continuar me amando e me explicou que existem as pessoas que querem e as pessoas que podem. E você ficava no primeiro grupo, que era melhor me guardar como uma boa lembrança do que me aguardar como a maior pendência.
E eu acatei tua decisão pra que? Só pra dar uma de orgulhoso. E mesmo sendo o errado da história eu deixei de te procurar. Eu machuquei aquilo que eu mais amava, mas não amava como deveria. Eu te deixei sair, esperando que você me procurasse e não o contrário. Foi a coisa mais em vão que já aconteceu em todos os tempos. Uns dois meses passaram e enquanto você deixava de me amar, eu te amava mais ainda. E eu cheguei á conclusão que é mais fácil ficar calado ou dizer algo que a gente não sente do que falar do que é verdadeiro, tipo quando eu digo que mais te odeio do que te amo.
Exatamente ás 09:10 daquele dia cinzento,  o visor do celular é estampado com “amiga chata da Ana” ligando. E eu fico naquela: Agora? Por que? Se nem Ana me liga mais, porque a amiga ligaria? E sem mais rodeios eu atendi. “Eu preciso te dar uma péssima notícia, teve um tiroteio...” Meu coração parou, fazendo todo o resto do corpo ficar estático. Minha princesinha me deixou de vez, tirando todas as minhas esperanças de que um dia seria ela tocando a campainha com frango e filme na mão. E eu me senti um fracasso por não ter dito tudo aquilo que eu queria, por não ser corajoso como ela e nem ser tão bom pra ela. Me deixando o peso de que eu não deveria deixar as coisas pro dia seguinte.
Eu nunca senti como seria planejar um suicídio e nem era preciso depois que a amiga dela disse que Ana tinha um ultimo recado, aquilo sim me matou pra sempre. “Naquele momento, os olhos escorriam lagrimas mais do que o corpo sangrava. No meio do caos e dos gritos, a pobrezinha tentava gritar mais alto que todo mundo. Ela pegou todo o ar que restava e no meio dos suspiros quase que inexistentes ela disse: diz pra ele que hoje eu só o deixo de amar porque eu não consigo mais viver. E eu tive que aprender da forma mais bruta a esquecer ele, talvez a única forma de esquecer... E as palavras acabaram sem nem dar tempo de fechar os olhos.” Se teve um momento na minha vida em que eu me senti a pior pessoa do mundo, o momento foi esse.
Eu só queria me desculpar por te comprar um coroa de rosas e não um buquê de orquídeas. Te dizer que eu me arrependo de não cuidar melhor de você.  Que há milhões de pedaços meus que te querem e há outros bilhões que tentam não querer. E infelizmente essa matemática não serve pro meu coração. Enquanto um décimo do ventrículo esquerdo quer te odiar por ir, todo o resto te ama. Que eu queria acordar na tua cama numa manhã qualquer e me espantar por abrir meus olhos e você não estar mais do lado... E depois me surpreender mais ainda por você aparecer vestida em trapos com café e pãozinho nas mãos. E eu sei que você queria ouvir da minha boca que seria difícil viver sem todos, mas que seria impossível viver sem ti. E no fim, eu queria te dizer que isso é exatamente o que eu sinto. E falar que espero que não seja tarde, sabendo que é, pra resumir o que foi o nosso amor em quatro palavras: pessoa certa, hora errada. E em outras quatro, dizer o que eu realmente quero: Te amarei pra sempre.

sábado, 16 de abril de 2011

De mal a pior

Sintam-se a vontade para me chamar de covarde ou qualquer coisa do tipo. Eu desisti de você. Ou melhor, de querer você. E tenho merecido um 10 no meu trabalho. A lição de casa tem sido feita como eu nunca fiz na escola. O esforço pode machucar, mas leva a algum lugar bom, pelo menos melhor que aqui. Com você, ou melhor, sem você. Eu percebi que não ter teu ombro pra chorar não é tão difícil assim. E ok, tudo bem, eu consigo pegar o transito e a chuva, ficar acabada no fim do dia e não te ter por perto pra diminuir todo esse caos da cidade. Mas sempre há um porém...
As vezes eu sinto saudade de te amar, eu sinto saudade de sentir saudade. E eu ainda te amo? Diz que eu to certa, diz que não. Se eu não tivesse tão ocupada com isso, até daria tempo pra fazer um lanchinho da tarde. É meio que inexplicável porque agora a lagrima só cai se eu forçar muito. Se eu ouvir Seaside de The kooks numa tarde fria de ressaca, de saudade, essa, que tem sido rara. Se você passar na mente, assim, meio de leve, despercebido, não fica por muito tempo, vai fácil. Vai mais fácil do que chegou. É incrível como você foi de mal a pior.
Mas no fundo, eu fico assim, louca pra te encontrar em qualquer esquina de supermercado, do outro lado da vitrine. Algum lugar realmente concreto, que não seja aqui no coração. Te achar no meio de cifras e rimas de uma musica bonitinha qualquer. Isso responde a minha primeira pergunta? Mas pra que isso agora? Eu to quase lá. Meu esforço diário ta quase valendo à pena. Eu nunca senti que falta tão pouco assim pra chegar onde eu sempre quis. Te esquecer, eu sem você e todo esse blá blá blá.
Isso é puro terrorismo. É frágil. E mesmo com toda aquela estrutura, com todo trabalho, aquilo que se levou anos para ser construído, estilo Old Trade Center, é abalado em questão de segundos. Você e seus aviões... Às vezes da vontade de apertar o botão do “send” e enviar um eu te amo numa noite qualquer, te pedindo em seguida que não responda nada pra não desarmar todo escudo que eu tenho formado, ainda sim, com essas ferramentas enferrujadas. Eu tenho muito medo de ser o Old Trade Center. Hoje eu chorei, mas as lagrimas cabiam no bolso, como não é de costume. E é realmente melhor mesmo parar por ai. Enchente assim, só é bonito se for em Veneza.
A única coisa ruim dessa história é que por mais que você vá, a esperança fica. Por que logo eu, a pessoa mais realista e pessimista do mundo encontra um jeito ridículo de achar que essa história ainda pode ter essa droga de final feliz? É totalmente contra minha vontade, é mais irritante do que te querer, assim, propriamente dito. Da vontade de dormir e pedir que me acordem só quando esse inferno acabar. Vou continuar trabalhando nisso, pro seu bem, pro meu, pro nosso bem.
E agora eu fico querendo achar alguém ali na porta do lado. Esperando alguém que não seja você. Um carinha pra me levar cupcakes ás 23:00, depois de um dia árduo de trabalho. E naquele momento, com os pés mergulhados numa bacia com água quente, a felicidade é plena, não da vontade de largar nunca. Que se dane a dieta e o cansaço. Devoraria os cupcakes, abraçaria tanto ele ao ponto de parecer ridículo pra cacete. E é verdade, a gente sempre arranja um jeito de ser feliz. Com ou sem você, assim eu espero.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Esse quase amor.

Estalos na calçada com despedidas no portão, beijinhos no “verdade ou conseqüência”, voltas de mãos dadas no parque e brincadeiras idiotas bem estilo salada mista. Todos eles não, mas você, você foi o primeiro amor. Aquele de não conseguir esquecer, de chorar, de te ver partir e sentir frio por umas 900 noites seguidas. Amor mesmo, não essa fantasia besta de criança, ainda sim, gostosa. E quem dera que pra mim, ainda fosse assim. Queria eu me conformar com simples abraços quando falassem “uva” e apontassem na minha direção. Eu quis demais. E você só me ensinou que nesse jogo de azar eu era a rainha de copas e você o rei de espadas, disposto a dilacerar meu naipe.
É verdade, você acabou comigo. Mas eu não pude ter o controle por que eu mal sabia o que tava acontecendo aqui. Você me machucou e mesmo assim, com as mãos no meu rosto, disse centenas de vezes que me amava. Eu esperei que o amor fosse realmente uma coisa bonita, um momento de felicidade, uma luz no fim do túnel, um cheeseburger num SPA. Mas eu acho que fui eu quem errou, eu idealizei demais. Você me mostrou o que era o amor, eu acreditei. É isso? Ok. Eu preferi acreditar nessa única prova do que me enforcar achando uma coisa da qual eu jamais teria certeza, esse amor perfeitinho.
E eu tava destinada a ver filmes românticos com finais apaixonados em aeroportos, onde ali, tudo se acerta entre vôos atrasados e chegadas inesperadas. E diante disso, eu só conseguia achar que os diretores estavam completamente surtados. Isso é um final feliz? Nesse nosso drama policial, cheios de tiro a queima roupa, você me mostrou que feliz mesmo é alguém esperando por alguém que nunca virá. E nesse caso, o primeiro alguém sou sempre eu!  Eu comecei a delirar, ou não, em pensar que o amor é algum tipo de droga injetável que na hora nos deixa em estado de puro êxtase, mas de pouquinho em pouquinho, em felicidades incompletas, nos deparamos com uma tamanha vulnerabilidade em clinicas de reabilitação, onde os corredores são longos e as portas de saída são minúsculas. O final nunca é feliz, isso quando tem final!
E fala sério, não era pra ser assim? De amor mesmo eu só sabia o que vinha da sua boca. Como eu podia achar que o amor era algo delirantemente bom enquanto a única coisa que eu provei foi amarga, mais do que café? Esse seu “amor” ai, então, vai saber. Por isso agora eu me conformo com ligações interrompidas, jantares desmarcados em cima da hora, não telefonemas no dia seguinte e todas essas esquisitices que mamãe ensinou dizendo: ele não ta afim, pula fora. Eu me desiludi por me iludir demais, talvez. O amor não é um bicho de sete cabeças, ele simplesmente não é mais nada. Eu te dei meu telefone. Vai ligar? Não vai? Pra mim tanto faz, o dia seguinte será o mesmo pra mim, com ou sem chamadas na caixa postal. Minha secretaria falou: deixe seu recado, vai de você deixar ou não.
Talvez eu esteja errada em não enxergar esse mundo colorido demais, mas no meu momento de amor, só houve noticias em preto e branco. Infelizmente, ou felizmente, eu sou quase intocável. Eu sou um robô que não se preocupa com as conseqüências de nada do que o amor trás. Eu não espero que um príncipe chegue a minha agencia entregando encomendas e de brinde traga flores, café e um pedido pra jantar. Eu não espero que ninguém me tire pra dançar. Eu ainda não posso afirmar o que o amor é, mas o amor meu, não é tão maravilhoso assim. Se alguém te ensinar que um limão é roxo e você nunca viu limões, como discordar e saber que o mesmo é verde? É, é complicado. E eu só sei dessa parte do amor, essa assim, meio com cara de limão. Tudo que é pouco, tem sido muito pra mim.

Te conforma, rapaz.

Era interessante o jeito em que as mãos dela de unhas vermelhas envolviam a pizza enquanto ouvia Radiohead e falava olhando pra te, em céus estrelados, que não conseguia viver sem você, ficar sem você seria algo estranhamente difícil. Aquelas pessoas cheias de esperança sussurraram pra mim que nem tudo que é difícil quer dizer impossível. Pra te também? Pois é. E olha ela agora se acabando numa dieta tediosa de grelhados, ouvindo musica escrota, mostrando os dentes num sorriso que diz pro mundo inteiro que viver só também pode ser viver bem. É rapaz, pode acreditar, ela ta bem sem te.
Não foi mentira, foi ilusão. E a partir de hoje, eu digo que essas palavras nem sempre andam de mãos dadas, nem sempre são a mesma coisa. Era mentira se ela realmente acreditasse que viver sem te seria fácil, mas dissesse pra te que não seria. Pois então,  foi pura ilusão. Foi um sonho em que alguém precisa de outro alguém e nessa solidão a gente fica cego. Não tava pré meditado, não era pra ser assim. Ela realmente achou que a vida não seria vida sem tua companhia pra fazer respirar, e te disse por que tava totalmente conformada com isso, com essa vidinha a dois. Mas que nada, besteira, foi coisa de momento. Você mesmo ajudou pra que ela pensasse assim.
Não é que ela não te ame mais. Ela ama sim e muito. Por isso viver sem te é melhor do que viver contigo sem te ter, assim, do jeito que ela quer. Daquele jeito que você sabe e por isso mesmo deu o fora pra não ter que arcar com as conseqüências de ser alguém extremamente amado, que recebe afeto de graça.  Todas aquelas palavras foram embora em um suspiro! E ela sabe: eu sei viver sem te. Não é viver, por que é difícil, irritantemente difícil. Ela apenas sobrevive, procurando jeitos e maneiras aleatórias de se conformar que sem todo esse teu peso, na cabeça, a vida fica mais leve. E fica mesmo.
Mas é que ás vezes fica leve demais. Ao ponto de ficar vazia. Sem cor, sem chão, sem nada e com cem musicas românticas pra botar na conta de quem não tem em quem pensar quando essas mesmas são ouvidas. Então ela disse que os neurônios se chocavam por que nessas noites confusas o sono vinha e ele voltava. Não voltava assim não! Ela não podia ter, mas não podia mesmo... Não era por falta de luta ou por não saber esperar. A guerra foi árdua e a sala de espera foi usada, bastante até. O problema é que simplesmente não era pra ser. Não tinha amor nas duas margens do rio e por isso o passeio do barco não vingou.
E foram dias e dias naufragando nesse mesmo abismo. Se distraindo de dia com os problemas do trabalho e lotando a cabeça á noite com bebidas entorpecentes pra não ter que deixar a vida te trazer de volta. São horas e horas rodando num mesmo circulo, sem parar, por que se parar, já viu, você volta no mesmo segundo, volta veloz, á tona. Então deixa ela. Deixa quieto. Qual é? Você bem que mereceu. Além de cigarro, tinha ela na mão. Mas os 40 reais que pagava pelo fumo não pagava por ela, então rapaz, fica quieto.
Vai te conformando de que a vida te deu uma flor e você não soube plantar o seu jardim. Aprende que ninguém vive parado pra sempre, ninguém espera nessa sala a vida inteira por que uma hora o estabelecimento fecha. E se quer atendimento 24 horas, procure por alguma dessas farmácias que tem xilocaína, mas lembra que é só anestesia temporária. Ela ta folheando livros que falam de felicidade enquanto você folheia teus dias atrás da mesma coisa. Porém, agora, não vai ser tão fácil assim. Pode fazer birra, sacanear, chorar, xingar, ela não te ouve mais! E te conforma que a culpa é toda tua. A única coisa que ainda vai ecoar ai é: Querido, se eu consigo, você consegue viver sozinho também. Te conforma, rapaz.

terça-feira, 12 de abril de 2011

De mãos não dadas

É bem verdade o que eu venho pensando mesmo. Talvez eu não esteja pronta pra nós dois, talvez eu não esteja pronta pra você e nem você pra mim. Talvez eu tenha nascido com esse dom de ser uma frigideira que não tem tampa mesmo! E você me faz achar isso cada vez mais. Por que beijos e abraços nem sempre são relacionamentos e encontros no fim de semana não são amor! E eu preciso dizer que eu preferia que você odiasse esse meu verdadeiro eu do que amasse esse alguém que eu não sou. Que eu faço só pra agradar, pra te agradar. Então essa é a hora em que eu sei que isso deve parar. Esse nós que vive de desencontro e de mãos não dadas.
E eu não consigo fazer piadas nesses quartos de hotéis e motéis. Eu tenho que conviver com essa história de jogar no Google essas palavras estranhas que mais parecem de outra época pra não parecer muito desentendida.  Eu tenho que sair de mim pra ser mais você. Eu não consigo ser espontânea ao ponto de te pedir um carinho, te pedir um beijo e dizer: chega mais pra cá! A verdade é que nós combinamos mais pelo gosto por cigarros, whisky e bandinhas alternativas do que por amor, sentimento, empatia ou por sermos nós mesmos. Você ainda nem sabe quem eu sou. Tudo que eu fui não sou eu. Eu não sei ser idiota nesses minutos e isso nunca me fez tanta falta. O que diabos somos nós dois?
Você vai me chamar pra tomar um vinho á dois sob o olhar de milhares de pessoas sem ter medo de sermos vistos como bandidos que acabaram de fugir da prisão? Ou você vai continuar a me deixar guardada a sete chaves na sua cabeça e no seu apartamento? Eis a questão, seja franco. Por que eu realmente não sei, eu não sei se nós somos ou não somos alguma coisa, não sei se seremos. Eu não sei se devo dar um basta ou se eu devo continuar andando nessa estrada de insegurança que esta nos levando a lugar em nenhum!
Mas é assim, toda vez, como um viciado, um drogado. Não tem cura. Esse prazer por não sermos nada, essa vontade de estar ai de vez em quando, mesmo sabendo que não deveria estar. Essa vontade de comer pizza a dois e beber long necks depois de uma noite inteira de musica e muita, mas muita bebida! Ai é que a vontade vem mesmo. Então, por favor me diz, pela ultima vez, o que nós dois somos? Além de sermos eu, você e nossos gostos parecidos. E eu sei que nós somos muito, mas juntos não somos nada.
Você diz que é medo de se entregar. É verdade que criamos escudos pra não se machucar. Nós vivemos armados nessa guerra. Por que eu já te acertei um tiro e outros vários. E você pode achar que não, mas eu já me feri também. E quem se machuca sempre quer remédio, a não ser que sejamos sado masoquistas. E foi ai que todos os leucócitos invadiram nossos corações nos fazendo dois doentes com medo de amar. E é por isso que não é amor. Não é afeto. Não é carinho. Não é nada além de papo furado na madrugada. É um ponto no universo sem sentido e sem direção. Sem função, sem porquê, nós dois vivemos a dois sem motivo nenhum. E então, qual vai ser?

As fadas não existem, não mais.

E então, você vai? E com a cara de tristeza me fez um sinal de sim. Ok. Faça o que quiser, a vida é sua, sentirei saudade e te esperarei aqui. Se eu vou te esquecer? Não sei. Se eu vou continuar te amando? Muito provavelmente. Eu nunca fui desonesta. Eu não vivo em um conto de fadas que relacionamentos duram pra sempre e não se modificam. Não vejo a distância como algo que só nos faz sentir falta e nos une. Também vejo ela como algo que pode nos mudar. Mas você não. Não é nem que você viva nesse mundinho seguro, você só tem medo de admitir que seu amor pode mudar, diminuir. Tem medo de dizer na minha cara que pode chegar um dia em que não será eu quem você gritará em caso de emergência. Não será meu nome que sairá da sua boca em noites sem sono, mal dormidas. E tai, dito e feito.
Você voltou. Voltou mesmo? Será? Continua com o mesmo nome, o mesmo endereço, a mesma mania chata de não conseguir ouvir uma única musica por 50 segundos... E voltou com um novo corte de cabelo, você voltou estranho, diferente. Não voltou do jeito que foi. Eu tenho percebido nos seus olhos, na sua falta de atenção com nossos jantares da terça. Com sua vontade de ouvir musicas que fazem os olhos chorarem e não as bocas beberem. Você tava ali mas não tava e eu tava sentindo falta. Ai eu te perguntei: Fala pra mim, o que aconteceu lá? O que aconteceu ai? Esse tempo conseguiu te provar finalmente de que não existe esse amor assim, infindável? Tem outra?
Você calou de pena. Eu insisti. Você falou: Eu não te amo mais. Ou amo, sei lá. Mas é verdade, as fadas não existem. Desculpa, eu encontrei alguém. E eu senti ali na hora que ainda era amor, mas ela era novidade, aquela paixão sabe? E ela era tudo que eu não era. Ela lia pra criancinhas enquanto eu lia pra mim mesma no escuro da noite na varanda. Ela fazia almoço pros pais enquanto meu almoço era uma dose de whisky. Ela mal sabia o que era um beijo e eu já tinha dado pra 6. Ela freqüentava a igreja enquanto eu freqüentava boates. Ela tinha ar de campo e cheiro de flor. Eu tinha ar de sono e cheiro de ressaca. Eu era de escorpião, ela devia ser de virgem. To sendo irônica. To rindo pra não chorar.
Tudo bem. Eu tenho que chorar por que não posso te fazer me amar outra vez. E eu já dei muito, te dei tudo e não tenho mais nada pra dar. Eu disse com a voz falhando que a culpa não era sua, ninguém se apaixona por que quer e se fosse assim, pediria que nesse momento me apaixonasse até pelo entregador da pizza, menos por você. Eu fiquei acabada em saber que nada ou tudo que eu fizesse te traria de volta. E eu me senti com algum tipo de doença respiratória que não deixa o ar sair e prende todo o amor do mundo dentro de mim, quase me causando uma morte súbita. Eu fiquei em choque e travei. Mas sinceramente, era melhor chegar na cara e falar: prepara a armadura, chama São Jorge e abraça a fé que lá vai bomba!  Disparava a sirene que eu dava um jeitinho de fugir.
Mas agora eu não consigo fugir pra lugar nenhum. É uma sensação estranha de escutar U2 e lembrar de você, olhar a tua foto e não te ter. Eu fiquei aqui paralitica na agonia de não te ter e não conseguir não lembrar. É foda! Ta foda! To assistindo drama pensando em você com sua flor. To lendo romance imaginando você regando essa nova felicidade. Ta bom ai? Ta melhor? Você foi mesmo, pela segunda vez, mas agora foi por completo. Foi pra não voltar. Foi sem deixar esperança alguma de que o amor é bonito e estável.  Foi cuidar de um futuro melhor, enquanto eu tento te colocar no passado. Saudade...

Ei, desculpa.

Desculpa? As pessoas dizem que não se deve pedir perdão por aquilo que não fez. Então, eu não fiz mas eu peço desculpas. Por não ter te ligado, não ter sentido tua falta, não ter te desejado sorte, não reclamar do teu novo corte de cabelo. Sei que desculpa não é uma borracha que sai apagando todos os erros e defeitos, não vai te trazer de volta. Desculpa por ter usado tantas borrachas achando que eu iria apagar de pouquinho em pouquinho todo esse borrão, desculpa por ter errado tanto e mesmo vendo teus olhos transbordando de dor ter errado de novo, e ainda assim, no fim das contas, tudo que eu fiz foi encarnar o Nando Reis todas as vezes, me queixando de estar atrasado, requerendo uma segunda chance, pra eu voltar a ser eu e errar contigo de novo. D-E-S-C-U-L-P-A!
Eu entendo sua boca calada, seus olhos fechados, suas poucas palavras frias. Eu entendo e não quero entender.  Eu sei de tudo, mais do que ninguém. Eu finjo que eu não sei, disfarço não entender suas queixas, desvio tua insatisfação com alguns carinhos... e faço assim só pra não ter que admitir pra nós dois que eu tenho sido ausente. E falo ausente pra não me crucificar ainda mais, suas palavras diriam na lata: escroto. Pois é, só eu entendo.  Assim como entendo que beijinhos e abraços não te farão me perdoar, e muito menos pedir desculpa, usando desculpas esfarrapadas, achando mil motivos pra colocar toda uma culpa em você que é completamente minha!
Te dizer que só fui assim por culpa tua, no fundo sabendo que isso não faz sentido nenhum! E por que eu faço isso? Se você mesma sabe que eu fui o errado da história... E é ai que eu te perco mais. Em cada pedido de perdão, por que neles eu demonstro quantas vezes eu fraquejei contigo, quantas vezes te deixei na mão. Mil pedidos de perdão = a um idiota que tem errado demasiadamente. E eu confesso aqui e agora que errei. Mesmo que na sua cara eu nunca tenha conseguido dizer isso. Por que, honestamente, é tão mais fácil aliviar nossa tensão colocando a culpa nos outros, mesmo que esses outros seja você. Desculpa.
Desculpa por ir e te deixar ir também. Posso ter perdido não quem eu mais amava, mas quem mais me amava, e nessas horas, não tão alegres, alguém que te ama pode fazer tanta diferença! Sei que não tenho o mínimo direito de pedir que você dê meia volta e me dê um sorriso mesmo que meia boca. Pedir, no mínimo, uma palavra não me parece justo, mas é verdade, eu nunca obedeci tuas regras, eu nunca segui a linha, é de praxe não fazer nada que você pede, então pode bater o pé ai, pode pedir pra eu não tirar esse teu sossego tão difícil de conquistar, eu to aqui outra vez, e uma de muitas... Ei, fala comigo!
Eu queria dizer que errar faz parte do meu eu antigo, te confessar que meus pedidos constantes de desculpa ficaram para trás. Eu queria mesmo dizer que eu te passei pra trás. Mas não, eu mesmo não entendo. Mesmo te ferindo, sendo a causa do teu travesseiro estar alagado de lagrimas, mesmo fazendo teu coração doer, ser a causa de te fazer perder noites de sono... eu bato na tua porta outra vez. Por que apesar de te fazer mal, eu continuo querendo te fazer bem, eu continuo querendo te amar, eu continuo te amando, de verdade, eu não sei dizer. Talvez seja por você ser a única que agüentou ser tão ferida assim, e no fim, ainda sobra amor pra dar.