sexta-feira, 3 de junho de 2011

Chorando te vendo rindo.

Dizem que quando a esmola é muita o santo desconfia. Vai ver por eu não ser tão santinho assim eu não desconfiei de nada. Muito sorriso, muita paz de espírito, muitos rapazes em volta... Essa era você da última vez que eu te vi. Eu realmente não entendi, você mesma me disse birrenta, fazendo showzinho que não queria mais me ver, que não agüentava mais, que tava sofrendo muito, mais do que podia suportar. Que o coração era até grande, mas a dor maior ainda. E tava lá, esbanjando simpatia e felicidade, como se minha presença não incomodasse e eu já não fizesse mais o coração ficar comprimido com vontade de saltar pela boca. E aquele seu ar de segurança foi saindo, me fazendo sufocar, me deixando simplesmente inseguro.

Eu te deixei em pedaços e nem nego. O que me espanta é esse seu jeito como se nada tivesse acontecido. E se eu gostaria de te ver sofrendo? Não, nem é isso. Mas é da natureza humana querer alguém ali pra te alugar, necessitar e depender de você. Não é nem pra te completar, é somente completar o ego, nada mais. E meu ego tava quase morto. Eu lembrei que há uns dois meses seu telefone tocava com ligações minhas e tudo que eu ouvia era: deixe seu recado. Disse que ia me evitar porque gostava muito de mim e ainda assim eu continuava preferindo colocar tudo na sua frente e estava disposto a perder aquilo que eu mais podia ter: você.

Eu deixei ligações, emails, recados na página de relacionamentos da internet, eu mandei palavras por amigos, eu fiz de tudo pra ouvir qualquer coisa tua e recebi apenas silêncio.  Eu dei uma de inconformado, desesperado e tudo que um menininho de seis anos é quando não ganha o brinquedo que tanto queria. Eu te provoquei de todas as maneiras que eu pude, eu queria ouvir até uma ofensa, qualquer palavra carregada de ódio, qualquer coisa que fosse um sinal de vida. Um sinal de vida seu na minha vida. Você saiu do mundo, foi dar uma volta na lua, sei lá, em qualquer lugar muito longe de mim. Eu te perdi de vista e eu também deixei de procurar.

Quando eu volto pra nossa cidade te encontro num bar e você vira a cara, vai embora e me deixa na vontade de tudo. Aí depois eu pego o avião sem te ver e quando eu posso volto de novo. Dessa vez você é surpreendente de todas as formas. O riso, a cor do cabelo, a cor da pele, a roupa. Ta mais bonita, sabe? Como se tivesse deixado ir embora tudo aquilo que roubava essa beleza escondida, como se tivesse mesmo me deixado ir embora. Tava num canto com as amigas e reparou meu olhar inquieto acompanhando todos os seus passos e performances. Quando eu menos espero vem na minha direção e abre um sorriso como eu nunca vi igual e muito menos merecia. Ta ai um sorriso que me deixou triste... “E ai, tudo bom? Como anda a vida?” Eu fiquei completamente extasiado. Ali eu era só mais um idiota que fiz diferença e agora não faço mais e essa vida era a minha e não mais a nossa. Sabe aquela história “um dia eu ainda vou rir disso”? Exatamente o que ela devia ta pensando.

Eu fiquei mandando todos os meus neurônios pensarem e procurarem qualquer desculpa esfarrapada que justificasse tamanha felicidade e tanto descaso. Ela quer fazer um ar de quem ta bem, quer se mostrar superior, quer fazer ciúmes, qualquer uma dessas besteiras. Mas que nada, é muito mais simples que isso: Ela ta melhor sem mim. As pessoas mudam e as vontades se moldam á cada fase. Ninguém é pra sempre se a gente não se esforçar. Nem pai nem mãe, nem o ex, futuro ou atual. Se a gente não quiser amar e cuidar, as vontades se reciclam e o que era amor vira pouco amor ou amor nenhum. A gente só pensa e sofre por alguém quando a gente se permite. Se a gente quiser, entrega ao tempo e da um jeitinho de dormir em meio á turbulência.

E eu fiquei incomodado, mas tanto, ao ponto de soltar a língua: Ta bem, né? Já me esqueceu? Pra piorar, ela riu, como se tudo isso não passasse de uma besteirinha de uma menina boba que sofreu por amor e agora tem coisa melhor pra fazer. “Que nada, foi muito marcante na minha vida, mas as coisas mudam, não da pra ficar estacionada o tempo inteiro em local proibido, uma hora a gente se toca e toca a vida também”. Por mais açucaradas que tenham sido as palavras, elas desceram com um gosto amargo. Ela podia ter dito: “É, não penso”, mas teve até um discursinho ensaiado, o que não muda nada pra mim, já que tudo quer dizer uma única coisa: Você não é mais nada pra mim.

Não fui eu quem não me conformei em viver sem ti. Eu que não me conformei em te ver sabendo viver sem mim. E agora eu sei o quanto dói.  Seja lá se isso for amor, paixão, necessidade, eu só sei que dói. Dá aquele arrependimento de não te obedecer quando você disse: Fica comigo. Enquanto você fazia meu coração bater, as outras faziam ele parar. Enquanto você cuidava de mim eu cuidava das outras por que eu sou mais um burro em meio a outros bilhões de pessoas que cismam em querer tudo que não podem e serem cegas diante de tudo aquilo que elas precisam, somente aquilo. Aí agora eu fico aqui chorando te vendo rindo. É duro te ver tão bem, com outro alguém, te ver melhor. E fico aqui te ligando até tomar a sua mesma decisão de decidir por quem eu vou me apaixonar, sabendo que você não é mais uma opção.

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